Crítica: “Pequena Grande Vida”

“Pequena Grande Vida” (Downsizing), é um filme do premiado diretor e roteirista Alexander Payne. De roteiro original, escrito pelo próprio diretor junto ao roteirista Jym Taylor, apresenta a descoberta do encolhimento viável de seres humanos, e diferente de outros filmes, como “Querida, Encolhi as Crianças” e outros, não se trata das confusões de alguém reduzido por acidente ou sozinho, mas do uso em larga escala e em diversas partes do mundo desta prática, e do impacto disto na sociedade. A narrativa individual mostra Paul Safranek (Matt Damon), que, para fugir de suas dificuldades monetárias, procura com sua mulher o encolhimento, tendo um resultado tanto dramático quanto cômico.

E se há um termo que é possível definir o longa é comédia dramática: o mundo, apesar de todos suas tragédias, nos é apresentado de maneira humorística; o dia-a-dia de Dave, desde antes de sua miniaturização, vive oscilando em momentos muito engraçados até tristes, e o segundo mostrado de maneira leve e às vezes cômica. Isso é tanto um ponto forte do filme, pois não se perde na sua ideia de mostrar uma sátira de nossa sociedade, como um ponto fraco, pois às vezes fatos horríveis são passados como coisas levianas – até tenta compensar, mas ainda assim não parece o bastante.

Apesar da tentativa de se manter leve a todo custo, a sátira é interessante, e aborda vários assuntos quentes de nossa sociedade atual, como preconceito, autoritarismo, meio-ambiente, imigração ilegal, dentre outros. É interessante como a produção contextualiza bem a miniaturização dentro de um mundo complexo, mostrando como impacta a sociedade, toca em todos os aspectos acima, e criando novas questões próprias ao processo. Novamente além de ser um forte, também é um problema: o filme se foca em tocar em vários assuntos e parece que não se aprofunda, vez ou outra parecendo raso, mais do que parece pretender ser.

Curiosamente, a história central é seu ponto mais fraco: Não que a trama de Paul e suas desventuras seja ruim, mas perto do universo criado não chama tanto a atenção, devido a ser uma história de crescimento do personagem um tanto batida.

Por fim apesar da grande estrela do filme ser Matt Damon, as atuações que mais chamam a atenção são as de Cristoph Waltz como o farreiro negociante sérvio Dušan Mirković, e da atriz Hong Chau, como a ativista e imigrante vietnamita Ngoc Lan Tran, essa particularmente roubando a cena.

Em suma, “Pequena Grande Vida” é um filme interessante. Mesmo não sendo o melhor de Alexander Payne, tem boas qualidades e vale a pena ser assistido. Só não é recomendado para quem não quer nenhuma sátira ou crítica sócio-ambiental, pois está povoado por elas em suas entrelinhas. Aliás, é particularmente recomendado para quem quer um longa crítico, mas não algo pesado demais.

por Ícaro Marques

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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