Crítica: “A Maldição da Casa Winchester”

Relacionar a palavra ‘terror’ à expressão ‘baseados em fatos reais’ já deveria ser o bastante para assustar qualquer mortal (tanto os que pulam nas cadeiras de cinema sem nenhum pudor, quanto os que ostentam o ar de indiferença durante a exibição).

Se o roteiro de “A Maldição da Casa Winchester”(Winchester), escrito por Tom Vaughan e pela dupla que também fica à frente da direção, Michael e Peter Spierig, não se destaca por sua originalidade – afinal, incontáveis filmes sobre casas mal-assombradas já ganharam as telonas –, há de se dizer que há relativa competência em se transportar para os cinemas uma história tão naturalmente perturbadora.

A protagonista da trama é Sarah Winchester (Helen Mirren), viúva do milionário dono da fábrica das armas – até hoje – mais conhecidas dos Estados Unidos. Após o falecimento de seu marido, supostamente a senhora passou a ser atormentada por espíritos de pessoas que foram mortas por uma arma que levasse seu sobrenome.

Para se esquivar de tais assombrações, Sarah passa a comandar de maneira quase doentia a construção de diversos cômodos em casa. Segundo ela, tais locais – erguidos à risca a partir de desenhos psicografados – seriam necessários para que os mortos pudessem retornar a este mundo em busca de perdão, para só então libertarem suas almas.

O problema é que não parece missão muito simples explicar às pessoas – sejam parentes questionadores ou gananciosos sócios – as razões que levam à execução intermitente de uma obra, cujos resultados, muitas vezes, são destruídos pouco tempo após sua finalização.

A narrativa, passada em 1906, ganha forma definitiva com a chegada do Dr. Eric Price (Jason Clarke), contratado pelos acionistas da empresa para atestar a insanidade de Sarah e, por consequência, sua incapacidade em permanecer à frente dos negócios (ela é detentora de 51% das ações).

Cético, o médico – dependente de doses esporádicas de Láudano -, vê no montante de dinheiro oferecido a ele, a solução de seus problemas, que se avolumaram de maneira exponencial com a morte prematura de sua esposa. O que ele não imaginava, era que, ao lado dos moradores do lugar (Sarah, sua sobrinha Marion – papel de Sarah Snook e seu sobrinho neto Henry – interpretado por Finn Scicluna O’Prey), seria testemunha / vítima de fatos sobrenaturais, que o fariam rever conceitos até então irredutíveis.

Se o longa falha ao fazer uso excessivo dos chamados “sustos fáceis”, por outro lado consegue ter êxito em apresentar detalhes cenográficos, com ambientes ricos, que transportam o público para dentro da temível casa. Os labirintos internos – que podem não levar a lugar nenhum -, a criadagem inexpressiva, cuja presença se funde ao cenário; as informações coletadas por Sarah, para criar uma espécie de arquivo com os nomes de todos que morreram pelo uso de uma das armas forjadas por sua família, são pontos a serem destacados.

Não espere por terror puro e absoluto – em nenhum momento o filme me pareceu tentar vender essa ideia – mas, por uma produção, no mínimo, intrigante.

Vale conferir.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.