Crítica: Meu Amigo Enzo

Lançado em 2008, “A Arte de Correr na Chuva” se tornou um de meus livros favoritos quando se trata de narrativas envolvendo animais, tanto que já o reli três vezes e em todas consigo me emocionar da mesma maneira. Foi com esse coração de leitora que entrei na sala de cinema para assistir à adaptação cinematográfica da obra de Garth Stein, “Meu Amigo Enzo” (The Art of Raicing in the Rain).

O narrador – e um dos protagonistas da história –  é Enzo (voz de Kevin Costner, perfeita), um adorável cachorro adotado ainda filhote por Denny Swift (Milo Ventimiglia), rapaz solitário e exímio piloto que luta por seu sonho de ter uma chance no mundo do automobilismo. Logo eles passam a ser uma dupla, daquelas que só os amigos de verdade são capazes de formar.

Até que surge um terceiro nome na rotina dos dois: Eve (Amanda Seyfried), jovem professora por quem Denny se apaixona à primeira vista e com quem acaba casando. Se de início há certa relutância, tanto por parte da moça quanto do cão, com a convivência eles percebem que podem ser felizes fazendo parte do mesmo grupo.

Com o nascimento de Zoe (Ryan Kiera Asmstrong), Enzo toma para si a responsabilidade de zelar pela garotinha e sua história pessoal deixa de estar o tempo todo no centro das atenções, afinal, agora ele não é “apenas” o melhor amigo de alguém, ele é, mais do que nunca, um muito querido membro da família.

Mas, não seria um filme do gênero se tudo corresse bem até o final. Um fato inesperado (envolvendo problemas de saúde) fará com que o mundo ao redor do cachorro desmorone e ele se veja em uma situação de total impotência para modificar o quadro, mas ainda assim, consegue mostrar o quão fundamental é sua presença nos momentos mais difíceis.

Há uma mudança drástica em um dos pontos mais importantes da trama, mas que eu já imaginava que seria adaptado de maneira infinitamente mais leve para as telonas, até mesmo porque se fosse levado ao pé da letra, poderia acarretar um aumento na classificação indicativa da produção dirigida por Simon Curtis. Apesar de não ser favorável a alterações de textos literários adaptados, gostei da solução que foi dada.

Por outro lado, um ponto muito bonito foi mantido e deve emocionar os fãs – em especial os brasileiros – de Fórmula 1: a admiração de Denny por Ayrton Senna, que não só é citado, como aparece em imagem de uma de suas inúmeras corridas vitoriosas. Vale dizer que o emocionante prefácio do livro foi escrito pela irmã do piloto, Viviane Senna.

Quem convive com cachorros terá uma fácil identificação com Denny e saberá de imediato como é importante e sincera sua amizade com Enzo. Assim como em vários momentos é provável que se pegue questionando até que ponto somos leigos em relação ao que se passa na mente e coração de nossos amigos de quatro patas. Talvez ser “irracional” aos olhos da ciência, não necessariamente precise ser sinônimo de ser “insensível” aos olhos da alma.

Prepare os lencinhos.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

Comments are closed.