Crítica: Rainha de Copas

“Rainha de Copas” (Dronningen/Queen of Hearts) é uma produção sueco-dinamarquesa criada com o objetivo de ser tão tentadora, quanto cruel. Dirigido por May el-Toukhy, o longa incita o espectador a explorar uma narrativa capaz de contestar os valores que pregamos.

Anne (Trine Dyrholm) é a representação de conquistas profissionais e pessoais que muitos almejam. Advogada renomada, ela é especialista em direitos da criança e do adolescente, além de mãe e esposa dedicada. Porém, nada parece bom o suficiente para suprir o vazio que transborda dentro de si.

Ao saber da chegada do enteado Gustav (Gustav Lindh), um adolescente problemático, Anne o aceita sem hesitação, e busca integrá-lo a sua dinâmica familiar. Quando compreende as necessidades afetivas do garoto, a madrasta permite que o sentimento de reciprocidade domine suas ações.

O filme brinca com espaços de tempo, além de fazer uso de uma fotografia pálida e inóspita. Essas combinações são usadas propositalmente para causar um cenário hipnotizante e ao mesmo tempo alertar para um desfecho impiedoso e eminente.

É interessante observar como a figura de madrasta é retratada na história: as condutas utilizadas pela protagonista para construir uma suposta afinidade familiar e amigável, são as mesmas que abrem espaço para que a relação incestuosa aconteça.

Trine Dyrholm realizou uma atuação impecável, com o decorrer da história é fácil nos depararmos com um misto de sentimentos sobre a personagem. Anne se desprende de seus pudores e sua vida perfeita, para se apropriar de aventuras sexuais com seu enteado, entretanto, nem tudo é o que parece.

O longa arquiteta uma premissa inteligente, relacionada à sensação de poder e domínio sobre futuras consequências. Gustav não é apenas mais um membro da família, ele é alguém que precisa ser descartado do jogo onde Anne reinava sozinha.

O drama que está disponível no Cinema Virtual tem como inspiração o mito de Fedra, além, é claro, de utilizar “Alice no País das Maravilhas” como sua maior referência. Para bom entendedor, um “Cortem as cabeças!”, já basta.

por Victória Profirio

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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