Como alguém que andou de moto apenas três vezes na vida, a princípio pensei o quão interessante seria assistir a um filme que tem o veículo como assunto principal. E, confesso ter ficado positivamente surpresa ao perceber que “Clube dos Vândalos” (The Bikeriders) é muito mais do que apenas isso.
Sob o roteiro e a direção de Jeff NIchols, o longa é baseado no livro de fotos homônimo de Danny Lyon (interpretado por Mike Fest) que, de 1965 a 1973, reuniu material para sua obra – que não teve lançamento no Brasil.
Na tela, a história é contada sob a ótica de Kathy (Jodie Comer), que serve como uma espécie de narradora dos fatos, ao dar depoimentos a Danny durante anos. Assim, acompanhamos de perto as mudanças provocadas pela passagem do tempo, não apenas em sua fisionomia / visual, mas, em seu comportamento.
O centro da ação está no meio-oeste dos Estados Unidos – mais precisamente em Chicago, cidade na qual se origina o chamado “Vândalos”. O clube de motociclistas que tem como grande paixão a possibilidade de estar sobre duas rodas, percorrendo estradas e reunindo-se com os companheiros para beber e, é claro, conversar sobre motos.
Fundado pelo caminhoneiro e pai de família, Johnny (Tom Hardy), que teve a ideia após assistir a um título clássico na televisão, o clube de corrida – que embora possa parecer selvagem, como a ideia de sua existência é capaz de nos incitar – acaba lembrando mais parentes próximos, que podem até ter seus desarranjos, mas que no fim, querem apenas estar juntos e reconhecem a necessidade de se defender os próprios membros. Uma versão de “Velozes e Furiosos”, com menos rodas, por assim dizer.
Se Johnny está no comando, é válido dizer que há outras bases importantes no grupo. Entre elas, Benny (Austin Butler), jovem de poucas palavras e muitas atitudes, que emula uma espécie de protetor do físico e do emocional de seus companheiros, e que, em um curto período de apenas cinco semanas, casa-se com Kathy – mesmo que tenham ambições tão diferentes.
Os problemas começam a surgem de forma gradual, a partir do consentimento de Johnny para a abertura de uma filial do grupo em Milwaukee, o que leva à aparição de vários outros braços que dominam cada vez mais estradas e diluem de maneira deturpada, a perspectiva da equipe principal.
Com apenas uma única menção no livro que serviu de inspiração para o longa, Johnny acaba sendo o personagem mais interessante em tela. Com o exercício nato de liderança, fica visível sua importância para manter o clube unido, assim como é nítido o respeito que a grande maioria tem por ele.
Além de uma ótima fotografia (trabalho de Adam Stone) e uma trilha sonora que atende às expectativas ao usar trechos de grandes canções da época retratada, “Clube dos Vândalos” tem muitos outros destaques.
Entre eles, o casal principal interpretado por Jodie Comer e Austin Butler que, dentre tantas diferenças, acaba se encontrando em um ponto no meio do caminho, e, de sua forma peculiar, lutando para o relacionamento dar certo, apesar de tudo.
Com várias participações especiais (o elenco conta com nomes como Michael Shannon, Boyd Holbrook e Norman Reedus), a produção surpreende ao expandir a narrativa não só para quem busca por uma boa história relacionada à velocidade sobre duas rodas, mas também para aqueles que querem assistir a um bom drama.
Vale conferir.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
Comments are closed.