Crítica: “Hora do Massacre”

Ao chegar à Cabine de Imprensa de “Hora do Massacre” (Wake Up), a verdade é que não esperava ver nada além de algumas cenas bacanas, que mostrassem os protagonistas em situações, digamos, pouco favoráveis (afinal, essa é a função quase sagrada de adolescentes em títulos de terror).

Mas, conforme a narrativa escrita por Alberto Marini avançava, comecei a achar que o filme talvez tivesse um pouco mais para mostrar. Ao término da exibição, a sensação foi exatamente essa, o que me deixou bastante surpresa (e essa crescente de expectativa quase zero para interesse inesperado é sempre muito boa de vivenciar).

A história se passa no interior da House Idea, uma loja de decoração para consumidores de alta renda. Típico estabelecimento que oferece produtos a preços exorbitantes a pessoas que pagam não só pelo objeto, mas pela “experiência” oferecida – algo que, nessa altura da minha vida, sigo sem entender.

Em seu catálogo – que inclui até mesmo um guarda-roupa com o sugestivo / um pouco insensível nome “Forrest” – móveis, teoricamente feitos a partir de madeira obtida na Amazônia, e que estão entre os alvos do vandalismo (ocultado sob o manto de ativismo) praticado por seis jovens.

O grupo decide passar a madrugada no local, após o fim do expediente, a fim de criar conteúdo digital a ser divulgado na Internet, visando, supostamente, a condenação on line daqueles que fomentam a indústria do desmatamento ilegal.

Só que eles não contavam com a ação dos dois seguranças noturnos da loja, Jack (Aidan O’Hari) e Kevin (Turlough Convery), que surgem como empecilhos para sua jornada de pichação – gratuita e/ou com ares de doutrina, destruição e (duvidosa) justiça.

Com nítidos problemas de dependência alcoólica, Jack assume o papel de protetor e faz de tudo para manter o emprego de seu problemático irmão Kevin, praticante ferrenho da execrável caça primitiva – este sim, o verdadeiro perigo a ser enfrentado.

Ainda que haja várias camadas além da violência pura e simples, normalmente vista em produções do subgênero gore, creio que a maneira mais adequada de se assistir ao longa dirigido pelo grupo RKSS – Road Kill Superstars (formado por François Simard, Anouk Whissell e Yohan-Karl Whissell), seja equilibrando as passagens de terror e as que têm viés político.

Tal junção de propostas resulta em algo bem melhor do que imaginei, mesmo que haja inúmeros desvios pelo caminho. O rápido declínio dos protagonistas que passam de justiceiros a presas fáceis; a degradação moral do guarda noturno que se transforma em um caçador implacável, que não mais distingue o certo do errado (se é que há algo de certo nessa prática). Esses são os pilares que sustentam os 83 minutos de duração da obra.

Entre os destaques positivos, a sequência passada em um escuro quase completo – responsável por uma das situações mais tensas e emocionais – e o final que, embora fosse o aguardado por mim, conseguiu acrescentar elementos que o tornaram muito mais efetivo.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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