Crítica: Super/Man: A História de Christopher Reeve

“O que é um herói? Eu acho que um herói é um indivíduo comum que encontra força para perseverar e suportar, apesar de obstáculos gigantescos”. A sublime definição de Christopher Reeve talvez seja a que mais nos aproxima (meros mortais) de figuras notáveis, muitas vezes divinas, cujas ações altruístas contribuem para termos uma vida mais segura.

Também serve como um emocionante resumo da jornada do ator que, aos 42 anos e com uma promissora carreira, tudo ao seu redor mudar drasticamente, após um acidente durante um campeonato de hipismo, em maio de 1995.

Os desdobramentos dessa queda é o que acompanhamos no documentário “Super/Man: A História de Christopher Reeve” (Super/Man: The Christopher Reeve History), que chega aos cinemas com a missão de mostrar que entre o homem e o herói há uma lacuna que poucos têm a capacidade de preencher.

Dirigida por Ian Bonhôt ePeter Ettedgui (também responsáveis pelo roteiro junto a Otto Burnham), a produção conta com diversos materiais que pautam a trajetória do ator americano, que, aos 24 anos, estrelou um emblemático filme baseado em quadrinhos, que viria a influenciar diversos títulos vindouros: “Superman – O Filme”.

Em 1978, sob as lentes de Richard Donner e a batuta do compositor John Williams – que criou um dos mais icônicos temas do cinema -, acreditamos que um homem poderia voar, que devemos manter a esperança, que existem indivíduos íntegros em nosso mundo (mesmo que sejam nativos de outros planetas).

Até chegar a este documentário – para o qual já fica minha torcida na próxima temporada de premiações. Nele, vemos, entremeada a depoimentos de colegas de trabalho (que tornaram-se amigos pessoais), como Susan Sarandon, Glenn Close, Whoopi  Goldberg e Jeff Daniels, uma belíssima representação animada de um ser superior, uma espécie de deus, posto em confronto direto com a realidade impiedosa.

A evolução do quadro considerado irreversível, que deixou Reeve tetraplégico, é sabiamente representada pela maior fraqueza do personagem que lhe deu fama mundial. Nunca a Kryptonita me pareceu tão cruel, tão letal.

Relatos familiares nos permitem, como fãs dos quadrinhos, ter apreço pelo homem, pelo ator. Ainda que, de maneira quase infantil, seja dolorido desvincular sua imagem do uniforme azul e da capa vermelha.

A problemática relação com o pai Franklin, a falta de comprometimento com a primeira companheira Gae Exton (mãe de seus dois filhos mais velhos, Matthew e Alexandra), a confissão de levar uma rotina regada a histórias passageiras, a visível insatisfação em protagonizar os terceiro e quarto filmes do icônico herói da DC Comics.

Situações que, quando trazidas à luz, fazem o público entender que há uma clara cisão entre intérprete e personagem, mas que, de alguma forma, servem para nos aproximar de Christopher Reeve, como se ele fosse um amigo querido, com falhas e acertos como todos nós.

Por falar em amizade, o longa ressalta a importância de Robin Williams para o ator, que se fez presentes nos bons e nos maus momentos, sem nunca hesitar. O que gera ainda mais lágrimas, quando imaginamos o quanto alguém tão gentil e prestativo – que fez milhares de pessoas sorrirem com seu trabalho – carregava de dor em sua alma, a ponto de tirar a própria vida em 2014.

Entre tantos momentos tocantes, o relacionamento de Reeve com a cantora / atriz / ativista Dana Reeve talvez seja o ápice do documentário. Junto, o casal teve um filho, William (adotado por Robin Williams em 2006, após a morte de Dana).

A decisão de manter-se firme ao lado do marido, mesmo sabendo de todas as crescentes limitações, as demonstrações de amor através de gestos e palavras, a certeza de ter feito a escolha correta, a incessante busca pela cura e por mais visibilidade de pessoas com deficiência. Tudo comove e faz refletir sobre o que importa de verdade.

Em 10 de outubro, completaram-se 20 anos da última batalha travada por Christopher Reeve. Mas, eu sei que, de alguma forma, sua partida não foi (e nunca será) capaz de torná-lo esquecível. Porque heróis não morrem nunca. Tornam-se lendas.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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