Crítica: “O Voo do Anjo”

Alguns assuntos são de natureza delicada e devem ser tratados com zelo. A morte (no geral) talvez seja o pior deles, assim como tudo que envolva a questão, seja a partida repentina de uma criança ou uma tentativa de suicídio.

Não existe uma maneira “leve” de falar sobre isso, mas o drama nacional “O Voo do Anjo” consegue levar esses tópicos às telas de um jeito muito respeitoso, o que me parece bem adequado à proposta.

Na trama passada em Goiânia, escrita e dirigida por Alberto Araújo, conhecemos o professor de sociologia Arthur (Emílio Orciollo Netto), que deixa de lecionar após julgar-se responsável pelo acidente que, há cinco meses, tirou a vida de sua filha única, Aurora (Catarina Meneghel de Borba).

Abandonado pela esposa Karina (Dani Marques) e carregando o peso de um luto inesperado e precoce, o protagonista passa a trabalhar como entregador no restaurante de um amigo próximo. E é por isso que sua vida vai mudar radicalmente.

Durante uma das entregas, tencionando tirar a própria vida ao se jogar da varanda da cobertura do cliente que fez o pedido de refeição, ele conhece Vitor Falcão (Othon Bastos), professor de física aposentado e poeta de alma que após seis décadas de casamento, vai morar com o filho Renan (Gustavo Duque), ao tornar-se viúvo.

Um oportuno acaso do destino vai unir os personagens que, cada qual a seu modo, mostra o quanto precisa um do outro. E é essa ajuda mútua, esse companheirismo que se desenvolve entre eles, que será o pilar para trazer alento a Arthur e motivação a Vitor.

Muito se fala sobre saúde mental, hoje em dia, mas a verdade é que muitas pessoas ainda não estão preparadas para aceitar a importância do assunto. O filme acerta ao tratar a depressão como algo que merece atenção, deixando claro que, embora não seja algo tão simples, também não pode (nem deve) ser encarado como insolúvel.

Destaque para a personagem Dora (Cida Marques) – secretária do lar de Vitor – que, no meio de tratativas tão sérias, consegue fazer o espectador sorrir, por seu estilo espontâneo e sincero, deixando a sensação de ser uma daquelas pessoas boas de encontrar em nossas trajetórias.

Apesar de seus temas centrais, “O Voo do Anjo” não é uma produção triste, mas reflexiva. Encarar determinados desafios nem sempre é fácil, mas sentir que não estamos sozinhos nessa jornada é sempre acalentador. Que fique o ensinamento pregado em dado momento da obra: “Amigo, a gente ajuda, e não pergunta o porquê”.

Importante: Caso sinta que está precisando, não hesite em procurar / pedir auxílio. Se não quiser (ou não puder) conversar com alguém próximo, há serviços especializados para auxiliar nessas situações. Um deles é o CVV (Centro de Valorização da Vida) que tem vários canais de atendimento – todas as informações podem ser encontradas em www.cvv.org.br.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

Comments are closed.