A consciência e a certeza de nossa finitude não são exatamente fardos simples de se carregar. Mas, ter abreviado um período que muitas vezes já parece, por si só, tão breve (diante de tantas ambições que desenvolvemos ao longo dos anos), é ainda mais avassalador.
Saber como lidar com isso, quando não há mais nenhuma alternativa a não ser enfrentar o futuro, é a mola propulsora de “Todo Tempo que Temos” (We Live in Time), longa dirigido por John Crowley, cuja trama passada no Reino Unido gira em torno do inesperado encontro de duas pessoas que não têm quase nada em comum, mas que, mesmo assim, acabarão se apaixonando.
Em processo de divórcio, Tobias Durand (Andrew Garfield) mantém um emprego estável (porém monótono) em uma empresa de cerais matinais e tem como um de seus maiores objetivos constituir família. Almut Brühl (Florence Pugh) – também recém-separada de sua companheira / colega de trabalho, Adrienne Duvall (Marama Corlett) – é uma promissora chef de cozinha, prestes a inaugurar seu próprio restaurante, e não tem nenhum desejo de tornar-se mãe.
Um atropelamento vai unir esses personagens que parecem olhar em direções tão diferentes e que, de uma maneira que nem sempre é viável (ou mesmo indicada) na vida real, encontrarão uma espécie de “terceira via” para seguirem juntos, seja abrindo mão de alguns sonhos, seja mudando drasticamente de opiniões.
O relacionamento do casal é mostrado de modo não linear, o que não funciona tanto, uma vez que impede certos impactos que poderiam tornar o roteiro de Nick Payne mais efetivo. Isso faz com que algumas passagens – incluindo a triste confirmação da reincidência de um câncer, dessa vez terminal – percam muito de seu apelo genuíno.
Vividos por outros intérpretes, talvez Almut e Tobias não funcionassem em tela, por terem expectativas tão díspares. Mas, existe uma excelente química entre Florence Pugh e Andrew Garfield, que convencem o público nos papéis de indivíduos lutando para conquistar, dentro do pouco tempo que terão em família, o que houver de mais sublime e impactante em um relacionamento – incluindo, obviamente, as sempre importantes boas memórias de momentos vividos juntos.
Como a narrativa de “Todo Tempo que Tempo” vai tocar cada espectador dependerá do grau de empatia desenvolvido pelos protagonistas, o que deve ser uma experiência de resultados mistos, já que, na mesma sessão em que eu estava, houve quem não derramou uma lágrima sequer, enquanto outros se emocionaram do início ao fim.
Talvez seja esse um dos grandes mistérios da vida, no final das contas.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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