Mesmo sendo absurdo, infringir a lei de direitos autorais e utilizar a imagem de personagens licenciados em criações próprias não é algo tão raro hoje em dia. Imagine então o que dá para fazer quando não há nenhuma limitação legal de uso de imagens por qualquer pessoa.
Lançada em 1928, a animação “Steamboat Willie” caiu em domínio público no início de 2024 e era apenas questão de tempo até tornar-se tema de alguma produção de qualidade duvidosa, que nada tem em comum com a obra original.
Assim é “Mouse Trap: A diversão agora é outra” (The Mouse Trap), cujo orçamento de US$ 800.000 é quase inexplicável diante da simplicidade do resultado visto em tela, já que não há quase nenhum efeito (digital ou prático) e o cenário é basicamente o mesmo em 99% do tempo.
A trama se passa dentro do fliperama Haven Fun, onde trabalham as jovens monitoras Alex Fen (Sophie McIntosh) e Jayna (Madeline Kelman). O estabelecimento que pode ser alugado para eventos em geral, é gerenciado por Tim Collins (Simon Philipps, que também é um dos produtores e assina a direção junto a Jamie Bailey), colecionador de filmes antigos em película, entre eles, “Steamboat Willie”.
Enquanto assiste ao desenho em seu escritório (onde podemos ver elementos de outras produções como “Pica-Pau”, “Alice no País das Maravilhas”, “O Mágico de Oz” e “Frankestein” – seriam indicativos de intenções futuras?), Tim ouve uma estranha voz que o leva a colocar uma estranha máscara (uma versão “macabra” do Mickey Mouse) e sair matando sem motivo aparente.
No caso, as vítimas óbvias são os amigos de Alex que reservam o complexo para uma festa surpresa em comemoração aos 21 anos da monitora. Os oito convidados – que seguem à risca (para o bem ou para o mal) os estereótipos do terror – vão se intercalar em cena, enquanto tentam entender o que está acontecendo e salvar suas vidas.
Os acontecimentos são narrados por Rebecca (Mackenzie Mills), uma das personagens que se torna suspeita dos crimes cometidos e tem que enfrentar os questionamentos (nem sempre pertinentes e /ou inteligentes) da dupla de detetives Cole (Damir Kovic) e Marsh (Nick Biskupek).
Em 80 minutos de duração, não fica clara a intenção do longa, que deixa em aberto a possibilidade de ser visto como um terror fortemente atrelado ao subgênero trash, tanto quanto dá a sensação de ser mais um título do chamado “terrir”, que tenta assustar, mas acaba fazendo rir (de nervoso ou vergonha alheia mesmo).
Há pontos interessantes em “Mouse Trap: A diversão agora é outra”. Entre eles, a distorção do icônico assobio ouvido na animação, que ganha acordes bem menos agradáveis; o aproveitamento da inconfundível silhueta das orelhas do rato; e a inesperada sequência de abertura que, embora longa (durando 1 minuto e 45 segundos), diverte ao tentar deixar bem claro que não há nenhum envolvimento ou aprovação da Disney no projeto.
Por outro lado, o filme peca em muitos aspectos. Um roteiro simples não seria um erro, mas algumas frases são inaceitáveis – como a dita pela personagem Marie (Allegra Nocita), que vê problema em matar um serial killer, porém acha que estaria tudo bem se ele fosse “apenas um cachorro”. Mas, o pior á o tufo de barba saindo pela boca da máscara do Mickey sinistro (que pode ter sido proposital, mas é asqueroso).
Talvez os maiores mistérios sejam a classificação do longa no Brasil (16 anos) ou o caminho que uma suposta continuação – insinuada na cena adicional mostrada no fim dos créditos – poderia tomar.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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