Crítica: “Eu só posso imaginar”

É difícil esperar por algo que não seja, no mínimo, comovente em um filme que tem como base a história de um rapaz que sofreu agressões de seu pai durante toda a infância, até parte de sua adolescência, e ainda assim encontrou em sua fé uma base sólida para continuar caminhando.

O título do longa “Eu só posso imaginar” (I can only imagine) é o nome da música de maior sucesso da banda de rock cristão norte-americana MercyMe, formada em 1994, cuja trajetória do vocalista Bart Millard é o que sustenta a trama desta adaptação cinematográfica. A canção é o primeiro single do álbum Almost There, lançado em 2001 e foi ganhadora de vários prêmios, além de ter alcançado números muito expressivos.

A narrativa nos apresenta Bart ainda criança (interpretado por Brody Rose), testemunhando a relação violenta de seus pais – e sendo ele próprio vítima da ira de seu pai Arthur (Dennis Quaid), que não só não respeitava seus sonhos, como fazia questão de destruir sua realidade. Tudo piora com o abandono de sua mãe Adele (Tanya Clarke) que cansada das agressões físicas às quais era submetida, deixa tudo para trás – inclusive o filho pequeno.

Já adolescente, Bart (agora vivido por J. Michael Finley) decide seguir o desejo de formar uma banda, mas apesar de várias tentativas, o grupo não consegue destaque suficiente para ser tornar conhecido do grande público. Depois de anos de estrada, ele retorna à sua casa, para refletir sobre a continuidade ou não de seus trabalhos como músico e se depara com o pai com câncer em estágio terminal.

Como não chega a ser algo inédito – no cinema ou na vida real – a doença e a consequente fé inesperada do pai agressivo, se transformam nos motivos que os levarão a encontrar o perdão transformador, aquele que só é alcançado por quem se mostra de fato disposto a tentar tirar o peso de anos de mágoa do coração.

Com o falecimento de Arthur, logo após este ter se tornado o pai que o protagonista sonhou a vida inteira, chega o momento em que as palavras surgem naturalmente no papel e que, em questão de minutos – como o próprio Bart relata à cantora de música cristã contemporânea, Amy Grant (Nicole DuPort) – se transforma na canção do título, aquela que vai levar sua banda ao sucesso e que será responsável por tocar corações no mundo inteiro.

A trama é tão simples quanto coerente. E, se para alguns vai parecer “apenas mais uma batida história de superação através da fé”, acredito que para outros tantos possa servir de inspiração para, assim como Bart, não desistir de seus sonhos – mesmo quando o mundo insiste em tentar lhe convencer de que as contas não serão pagas por eles.

Indicado para quem ainda, apesar de tudo, acredita.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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