Crítica: “Escape Room”

Em 2016, participei de meu primeiro jogo de fuga. De lá pra cá, foram mais de trinta desafios enfrentados junto a minha incrível equipe Escapers Divertidos. Talvez por essas experiências prévias, eu tenha me apegado tanto aos detalhes cenográficos do suspense “Escape Room” (idem), que chega aos cinemas com a proposta de mostrar o perigoso e literal significado de “imersão” em uma misteriosa partida.

Seis personagens aparentemente aleatórios – uma estudante, um executivo, uma ex-militar, um nerd, um funcionário de mercado e um caminhoneiro – recebem uma espécie de cubo que ao ser decifrado revela um convite para participar de um jogo de fuga que premiará o vencedor com US$ 10 mil.

Com mais nenhuma informação, orientação ou regulamento disponíveis, o (inconsequente? ambicioso?) sexteto se encaminha a um gigantesco e intimidador prédio para a disputa. É no interior deste edifício que quase a totalidade das cenas acontece, justamente durante a tal partida de escape game.

Após um trailer bastante promissor, a impressão passada é que teríamos uma espécie de produção “baseada” na famosa franquia “Jogos Mortais”, mas se essa era a real intenção, o roteiro deixou muito a desejar. No momento em que as histórias prévias dos protagonistas vêm à tona, até existe um ponto em comum para que tenham sido convocados em conjunto, mas a justificativa para tal ato é sofrível e pouco original (saudades de Jigsaw e sua mente tão perversa quanto brilhante).

Por outro lado, se o contexto parece pouco cativante, a cenografia é incrível. Cada sala temática que serve como uma espécie de fase do mesmo jogo é rica em detalhes e apresentada para agradar tanto o público que já é fã da proposta dos escape games quanto quem ainda não conhece nenhum empreendimento do gênero. Enquanto via o filme, me peguei tentando decifrar os enigmas junto aos personagens, com direito a pontadas de frustração quando deixava passar alguma pista que poderia ter ajudado na resolução mais rápida – exatamente como me sinto em uma partida real.

Também é interessante descobrir o motivo de cada tema ter sido escolhido para compor um jogo que, diferente do que acontece nas salas convencionais, não tem um assunto específico, passando de uma simples sala de espera para uma rústica cabana de caça, um barulhento bar e até mesmo um ambiente regado a psicodelia – todas oferecendo crescentes e impensáveis perigos.

Talvez o maior problema da produção dirigida por Adam Robitel seja a pressa mostrada em seu começo e seu fim. A primeira sequência já entrega de bandeja um dos grandes ganchos do longa e acaba tirando parte da surpresa que poderia / deveria causar no público. E a cena final não parece fazer nenhum esforço em esconder a clara intenção em se realizar uma continuação futura – o que até seria válido, se as resoluções não fossem tão frágeis e duvidosas.

Enfim, “Escape Room” não chega a ser um desastre total – visto que os cenários são muito bem realizados – mas, por mais que não se espere uma grande história em títulos do gênero, no mínimo poderia haver uma trama que fizesse a plateia torcer pela escapada dos personagens, o que não acontece de maneira tão natural assim.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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