Crítica: “O Rei de Roma”

Sempre acreditei que para uma comédia ter êxito, ela não precisa, necessariamente, fazer a plateia gargalhar até perder o fôlego. Algumas produções do gênero conseguem encontrar um ponto preciso de divertimento, que se equilibra no fato do espectador manter-se interessado na história e possa encontrar motivos para colocar vários sorrisos no rosto durante a projeção.

Esse é o caso de “O Rei de Roma” (Io sono Tempesta), longa italiano dirigido por Daniele Luchetti (que também assina o roteiro junto a Giulia Calenda e Sandro Petraglia), que tem como protagonista o muito bem-sucedido – e naturalmente egocêntrico (visto o título original) – empresário Numa Tempesta (Marco Giallini), que é obrigado a conviver com uma realidade muito diferente da sua, por uma pendência antiga com a justiça.

Devido à evasão de divisas, Numa é condenado a pagar um ano de serviços comunitários. Para isso, deve apresentar-se todos os dias em um abrigo local, que cuida de pessoas em situação de rua, oferecendo itens básicos como roupa e produtos de higiene, além de uma refeição diária e ambientes para que possam descansar (antes de terem que encaminhar-se de volta às ruas no final do expediente).

Com uma rotina que inclui transações imobiliárias de milhões de dólares e luxuosas moradias temporárias – ele vive em hotéis que adquire, até que consiga vendê-los -, o empresário inicialmente se vê perdido com suas novas obrigações, já que durante o cumprimento delas não tem acesso nem mesmo a seu telefone celular – o que acarreta a perda de várias transações financeiras.

Mas, com a mesma rapidez que conclui projetos milionários, ele se adapta – a sua, digamos “excêntrica” maneira, é claro – aos novos rostos que agora fazem parte de sua vida. Entre eles, o divertido Bruno (Elio Germano) – responsável direto por vários dos melhores momentos da narrativa, incluindo o hilário caso dos créditos no celular -, que após ser abandonado pela esposa acabou nas ruas com seu filho único, o astuto Nicola (Francesco Gheghi).

Com a lábia que os grandes empreendedores têm, Numa consegue convencer (entenda-se subornar) parte dos que frequentam o abrigo – e com quem têm contato direto – a dizer para a rígida coordenadora do local, Angela (Eleonora Danco), que a conduta dele é exemplar e que a empatia tornou-se algo natural entre eles. Tudo para que sua pena seja diminuída e ele possa fazer uma viagem para o Cazaquistão, onde pretende fechar um dos maiores negócios de sua carreira.

É claro que nem tudo sai como planejado, mas o convívio do protagonista com os demais personagens que possuem uma realidade tão contrária a sua, traz consigo mais do que o aprendizado e a lição de moral – que seriam óbvios e esperados em uma produção assim. E são essas surpresas, e até mesmo as ações de caráter duvidoso à primeira vista, que tornam a produção tão diferente e interessante.

Vale conferir.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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