Crítica: “O Parque dos Sonhos”

Quando pensamos de forma natural na passagem de tempo da vida como responsável por nosso inerente amadurecimento e pela chegada de responsabilidades em cascata, é provável que deixemos de lado a maior perda pela qual a maioria das pessoas passa nessa fase: a da capacidade de encantar-se com a própria imaginação. Esse é o cerne da narrativa de “O Parque dos Sonhos” (Wonder Park).

A trama nos apresenta a garotinha June (voz de Brianna Denski na versão original), que ao lado de sua mãe (voz de Jennifer Garner) transforma o espaço limitado de seu quarto em um impressionante parque de diversões, literal e figurativamente. Através da utilização de materiais simples como canudinhos de plástico e forminhas de cupcake, as atrações ganham formas palpáveis que ajudam a estimular a brincadeira física. Mas é no detalhado mapa que cobre uma das paredes, que a criatividade da dupla corre solta para desenvolver maravilhas divertidas.

Porém, a vida nem sempre segue os rumos desejados e os sonhos são forçados a abrir espaço para uma realidade bem menos cativante. Quando a mãe de June adoece gravemente e precisa se afastar de casa para dar início a um invasivo tratamento, a rotina da menina perde o brilho e as brincadeiras com o tal Parque como tema não têm mais sentido, o que faz com que ela desmonte toda estrutura que agora ocupa vários cômodos da casa e abandone seus amados brinquedos em uma caixa de papelão.

É nesse momento de cruel e repentino amadurecimento que a pequena protagonista fará sua primeira e inesperada incursão às dependências do local idealizado por ela e sua mãe. Ao buscar o caminho de volta para casa – após desistir de ir para um acampamento com seus amigos de escola – ela descobrirá, no meio de uma floresta, que o cenário criado em sua imaginação ganhou forma em tamanho real.

As sequências passadas no Parque dos Sonhos são as mais graciosas da animação. É nítido o cuidado para se recriar com precisão tanto as atrações – que vão da tradicional roda-gigante a um carrossel que tem peixes voadores no lugar dos cavalos – quanto os personagens que vivem e trabalham no local: o macaco Peanut (Norbert Leo Butz), o urso Boomer (Ken Hudson Campbell), a javali Greta (Mila Kunis), o porco-espinho Steve (John Oliver) e os castores Gus e Cooper (Kenan Thompson e Ken Jeong na versão original. Lucas Veloso e Rafael Infante na versão brasileira), cada qual com sua função, importância e personalidade bem definidas.

Caberá à June salvar o lugar da perigosa escuridão que o atinge (uma simples, mas muito eficiente metáfora à própria tristeza da menina). Ao lado dos animais, seus amigos imaginários de longa data, ela começará sua tentativa de recuperar o brilho e o encantamento tão típicos da infância e encontrar um jeito de mantê-los vivos, mesmo em frente às dificuldades que puderem surgir durante sua trajetória.

A produção dirigida por Dylan Brown é maravilhosa em vários sentidos. As cores vibrantes e o sortimento de texturas cumprem seus papéis e oferecem ao espectador uma experiência visual muito atraente. Mas é seu conteúdo que consegue tocar o coração do público, que se vê próximo aos personagens, através de uma história que oferece camadas complexas por trás de um viés aparentemente simples.

Vale muito a pena conferir.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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