Se pararmos para analisar de maneira mais profunda o título de “O Retorno de Ben” (Ben is Back), veremos que, mais do que a volta física do personagem, a trama apresentada no drama escrito e dirigido por Peter Hedges busca uma espécie de redenção emocional, um reinício na conturbada história pautada na dependência química do jovem.
Ben Burns (Lucas Hedges) é o filho mais velho de uma família cujos membros, apesar de tantas razões prévias para fazerem o contrário, ainda mostram-se fortes na crença da recuperação plena do rapaz que há anos é usuário dos mais diversos tipos de drogas – a exceção, por assim dizer, fica por conta de sua irmã Ivy (Kathryn Newton), que mesmo tendo carinho por ele, mantém certa apreensão frente ao fato de sua saída da clínica de reabilitação e chegada repentina na véspera de Natal.
Holly (Julia Roberts em grande momento de sua carreira) é a incansável mãe que alia um amor profundo a uma inevitável parcela de culpa para lidar com a situação. A cada internação ineficaz, a cada recaída no vício, a luta pela reabilitação de Ben parece mais improvável, mas sob o acalentador olhar materno, ela permanece firme na luta por seu filho.
O longa consegue aliar com maestria dois gêneros simultâneos: o drama pautado na óbvia dificuldade encontrada por Ben em manter-se longe das drogas (já que estas parecem presentes nos lugares e momentos mais triviais, como em um passeio ao shopping) e o suspense criado a partir da opção em mostrar, sem restrições, os pesados bastidores do submundo do tráfico.
Toda ação apresentada em 112 minutos se passa durante pouco mais de 24 horas – véspera e parte do dia de Natal. Nesse tempo limitado, os espectadores são levados a sentir um levante crescente e difuso de emoções. Há a solidariedade para com Holly e a árdua batalha para manter sua sólida sua posição de mãe, ainda que o mundo à sua volta pareça ruir; a empatia para com Ivy, quando passamos a entender seus pensamentos em relação a como deve se sentir e agir diante do caos provocado pelos problemas do irmão.
Sem contar a grata surpresa que é ver como Neil (Courtney B. Vance), padrasto do protagonista, preocupa-se com seu bem-estar (mesmo que isso se deva ao fato de querer o restante da família, que também inclui dois filhos pequenos que tem com Holly, em segurança e harmonia).
Quanto a Ben, por mais que este se esforce em mostrar o quanto deseja mudar de postura, por toda a narrativa paira uma grande dúvida em relação às suas reais intenções. Se em uma cena acreditamos em sua palavra quando afirma que não pretende mais usar drogas, na sequência algo acontece para deixar o público mais uma vez com receio do que virá. E esta atenção – e tensão – são elementos que merecem grande destaque na produção.
Ao tomar o caminho do suspense dramático, “O Retorno de Ben” torna-se diferente de várias outras obras que apelam mais para o lado do sentimentalismo puro para falar sobre as consequências que o vício traz – não só para o usuário, mas para todos que o cercam. E o equilíbrio entre o que faz o espectador chorar (principalmente no que diz respeito à personagem de Julia Roberts) e o que faz ficar com os olhos fixos em tela, é o que transforma o longa em uma pedida excelente para quem busca uma opção com resultado bem-executado.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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