Crítica: “Vox Lux – O Preço da Fama”

A narrativa de “Vox Lux – O Preço da Fama”(Vox Lux) mostra como ações de terceiros podem modificar a vida de alguém de um minuto para o outro e acarretar consequências que perduram por vários anos.

O drama musical é divido em atos – como uma peça teatral – e conta com a excelente narração do ator Willem Dafoe, que além de dar um ar sofisticado ao filme, também ajuda a pontuar muitas passagens importantes da história com mais excelência do que as imagens em si.

No final da década de 1990, Celeste (Raffey Cassidy) é uma jovem de 14 anos que sobrevive a um massacre cometido em seu colégio no primeiro dia de aula pós virada do ano. Mas, embora tenha resistido, ela carrega a sequela por ter sido baleada e atingida em uma de suas vértebras.

Se por um lado parece “simples” esconder a cicatriz em seu pescoço com adereços em forma de gargantilhas justas ou blusas de gola alta, por outro é notória a dificuldade em superar – de verdade – os acontecimentos posteriores que ajudaram a moldar seu destino.

A guinada em sua história começa ao comparecer a uma missa em homenagem às vítimas do atentado, durante a qual ao invés de fazer um discurso simples, a protagonista canta uma canção que compôs em parceria com sua irmã mais velha, Eleanor (Stacy Martin), e que viria a se tornar um inesperado sucesso. Era o primeiro passo para uma promissora carreira como cantora.

Natalie Portman dá vida à personagem a partir da metade do longa, quando a ação se passa em dias atuais. Bem sucedida, com uma legião crescente de fãs e ainda emplacando sucessos no mercado, Celeste parece ter a vida perfeita diante dos olhos de quem acompanha suas atividades, mas os bastidores da fama se revelam bem menos acolhedores e mostram que muitas vezes há um preço alto a se pagar para manter-se no topo.

A maternidade precoce (Raffey Cassidy agora interpreta Albertine, filha de Celeste), a imersão no mundo das drogas, o afastamento da família e as dificuldades em manter-se íntegra por conta própria, transformam a cantora em uma pessoa com graves problemas de aceitação (embora isso não seja assumido por ela), alguém que coloca em jogo a qualidade de seu trabalho para adequar-se a um mercado que parece pouco interessado neste atributo.

A grande sacada da obra dirigida e roteirizada por Brady Corbet está nos detalhes: na maquiagem que dá à protagonista diferentes personas, no uso de máscaras que encobrem a real identidade sob o brilho ofuscante dos paetês, no relacionamento de dependência emocional desenvolvido com o passar dos anos com seu empresário interpretado por Jude Law – que nunca deixa claro com o que realmente se importa.

O destaque, como já era previsível, fica para a interpretação de Natalie Portman. É provável que parte dos espectadores a considere beirando o limite do exagero e caricato, mas ao pensarmos na evolução de Celeste durante a jornada de 16 anos que o filme abrange, veremos que isso se deve justamente à personalidade da personagem, que não parece ter se modificado tanto, ainda que agora não seja mais uma simples adolescente.

O ato final da produção se foca em apresentar o que seria parte do show da cantora. Como musical, a execução é bem conduzida e a sensação é de que estamos assistindo a um espetáculo real. Mas, como parte necessária à trama, e embora o trabalho de Natalie seja louvável, talvez a sequência não precisasse ser tão extensa.

Vale conferir.

por Angela Debellis

Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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