Crítica: “Uglydolls”

À primeira vista, “Uglydolls” é aquele tipo de animação cuja simplicidade age como elemento fundamental para trazer êxito ao roteiro. E essa é uma maneira maravilhosa de enxergar as coisas. Porém, tão válida quanto, é a capacidade de perceber que por trás da história singela, há uma complexidade notável, que transforma a produção em muito mais do que “apenas” um bom divertimento.

A trama nos leva até a colorida Uglyville, uma espécie de cidade em que vivem os mais diversos modelos de bonecos que, por algum “defeito” em sua fabricação, acabaram descartados e impossibilitados de chegar às lojas. Para a grande maioria dos habitantes, basta saber que suas vidas são fortemente calcadas em uma rotina que inclui músicas com letras otimistas, refeições saborosas (que direito a cupcakes de tecido!), manchetes positivas nos jornal e amizades sinceras. Mas isso não é o suficiente para Moxy.

A adorável protagonista (dublada por Kelly Clarkson na versão original e Aline Wirley na versão dublada) carrega em si um tipo de otimismo que pode parecer exagerado para alguns, mas que acaba sendo reconfortante para quem precisa encarar momentos em que a vida não se mostra tão justa ou fácil. Olhar-se no espelho e convencer a si próprio de que há esperança em um novo dia – ainda que tantos outros tenham se mostrado infrutíferos – é tarefa para poucos.

E é essa inexplicável sensação de que falta algo que leva Moxy e seus melhores amigos Ugly Dog (Pitbull / Rincón Sapiência), Lucky Bat (Wang Leehom), Babo (Gabriel Iglesias) e Wage (Wanda Sikes) a uma inesperada jornada ao chamado “Mundo Real”, no qual poderão encontrar crianças que os amem e protejam. Entre esse desejo e sua concretização, só há um empecilho: O Instituto da Perfeição.

O local lembra um tipo de centro preparatório para bonecas consideradas perfeitas, que têm personalidades baseadas sempre em duas profissões bem distintas – sendo uma delas, indubitavelmente, modelo. A legião de brinquedos é liderada por Lou (Nick Jonas / João Cortês), a expressão máxima da “perfeição” que, com sua aparência impecável e extrema capacidade de convencimento, é quem define o que deve ser considerado feio ou bonito e o que tais avaliações poderão ocasionar para seus portadores.

Ao confrontar essas exigências surreais, os pequenos Uglydolls são colocados em uma situação em que várias pessoas, das mais diversas idades, se encontram neste exato momento, ao redor do mundo: na de quem precisa encontrar forças para descobrir os benefícios da auto aceitação e valor próprio, independente de quanto o exterior tente mostrar o contrário.

É gratificante perceber que no meio do caminho ainda há espaço para fazer novas amizades como Mandy (Janelle Monáe / Paula Lima), entender atitudes de velhos conhecidos como Ox (Blake Shelton) e, por mais clichê que possa parecer, conscientizar-se da importância da empatia – ainda que em momentos que impliquem decisões delicadas.

A animação dirigida por Kelly Asbury – e baseada em uma linha de brinquedos bastante famosa nos Estados Unidos – é encantadora. Com suas cores vivas que saltam aos olhos e canções com letras simples e eficazes, é fácil conquistar os espectadores que estiverem abertos à experiência de conhecer os bonequinhos.

Então, vale deixar aquele lado mais crítico – que vai buscar por elementos mirabolantes ou por qualificações para prêmios da indústria cinematográfica – em casa, e aproveitar a produção da maneira que ela merece.

Como diz a letra de uma das músicas da trilha sonora composta por Christopher Lennertz, “mais incrível que isso não há”.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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