Crítica: Hellboy

Ainda que não conte com a mesma aclamação que personagens cuja visibilidade é maior tanto nos quadrinhos quanto nos cinemas, é inegável o fato de que Hellboy também tem sua porção de fãs dedicados. E são justamente esses admiradores os que mais poderão se decepcionar com o novo produto baseado no anti-herói que chega às telonas.

“Hellboy” é um (desnecessário? Inexplicável?) reboot cujo roteiro – apesar de ser o que mais se aproxima de arcos importantes e figuras conhecidas das HQ’s de Mike Mignola – peca em várias frentes diferentes.

No longa dirigido por Neil Marshall, há graves problemas técnicos (o uso de CGI chega a ser incômodo em algumas cenas, tamanha a falta de credibilidade dada às imagens) e textuais – há frases que visam serem cômicas, mas que parecem totalmente deslocadas das sequências em que são inseridas, gerando um humor que pouco tem de eficiente.

David Harbour assume o papel principal do demônio resgatado das mãos de nazistas e passa a impressão de estar fazendo o que pode, seja debaixo de muita maquiagem nem sempre convincente ou com um material de qualidade no mínimo duvidosa em mãos. Caberá ao protagonista encontrar Nimue, a chamada Rainha Sangrenta (interpretada por Milla Jovovich, sem apresentar nada de novo à atuação que lhe é peculiar) para evitar eventos de proporções catastróficas.

Com o lado do bem e o do mal estabelecidos, não parece haver muito o fazer a não ser desenvolver a trama de fato. Eis que surge mais um problema: há uma clara dificuldade em se dar peso a qualquer fato apresentado em tela, tudo surge muito raso ou é colocado apenas para ser reconhecido por fãs mais atentos, ou seja, boa parte do público que não conhecer as aventuras em papel de Hellboy não conseguirá perceber nenhuma dessas minúcias que talvez tornassem trabalho minimamente interessante.

Ao lado do protagonista, uma nova dupla “substitui” Liz Sherman e Abe Sapien (vistos nos dois filmes anteriores do personagem, levados aos cinemas pelo diretor Guillermo Del Toro): Alice Monaghan (Sasha Lane), jovem com poderes mediúnicos incríveis que a tornam muito útil quando há necessidade de se ter uma comunicação mais direta com os mortos e que, supostamente, tem tudo para ser o novo interesse romântico do herói; e Major Daimio (Daniel Dae Kim), oficial habilidoso / misterioso convocado para participar das batalhas sobrenaturais que serão travadas.

Há espaço para vários outros coadjuvantes – também visto em arcos das revistas: o javali gigante Gruagach, Gigantes (mesmo que em menor número) e a bruxa Baba Yaga. Talvez sejam muitas informações – que podem parecer até mesmo aleatórias – para serem absorvidas em pouco tempo, dentro da proposta de um filme que, mais do que um reinício, visa ser a inserção de uma nova franquia no cinema.

Como tem sido padrão em um número cada vez maior de produções, o final em aberto é claramente uma tentativa de incitar a curiosidade da plateia para “o que virá depois”, assim como as duas cenas adicionais – uma durante, outra após os créditos. Mas, ao acender das luzes, fica a impressão de que será quase impossível acompanhar o resultado dessas propostas, já que eu acho difícil o filme ter fôlego (ou credibilidade) para ganhar uma continuação.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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