Crítica: Obsessão

Dirigido pelo magnífico Neil Jordan, de “Entrevista com o Vampiro” e “Traídos pelo Desejo”, e apesar de não apresentar grandes novidades cinematográficas quanto a relações obsessivas, o suspense “Obsessão” (Greta) tem um diferencial: desta vez, o personagem mentalmente perturbado e perturbador é interpretado por uma mulher.

O longa é objetivo e já na primeira cena vemos Frances McCullen (interpretada por Cloë Grace Moretz) encontrar um bolsa verde em um vagão do metrô de Nova York. A garota tenta deixá-la no “achados e perdidos”, mas como o enredo precisa de um desenvolvimento, ela não consegue e toma a decisão de devolvê-la, afinal, o endereço da proprietária está dentro da bolsa.

Ao chegar à residência, a jovem conhece Greta (Isabelle Huppert), uma mulher francesa, madura e aparentemente solitária, que perdeu o marido e cuja filha estuda na França. Greta é dócil e gentil, o que comove Frances, uma vez que acabara de perder a mãe e possui uma péssima relação com pai.

O thriller de suspense não demora muito para revelar a antagonista, e logo Frances descobre que Greta tem o caráter duvidoso, e é a partir de sua decisão de se afastar da mulher que seu drama tem início. A garota é cercada de todas as formas: ligações, mensagens de textos, visitas ao trabalho, perseguições a ela e sua amiga.

A atuação de Cloë Grace Moretz é sempre muito linear: apesar de possuir dezenas de filmes no currículo, a atriz nem sempre consegue trazer emoção aos personagens, o que não foi diferente em “Obsessão”.

Por outro lado, temos a atuação extraordinária de Isabelle Huppert: a veterana mostra toda sua capacidade de convencimento ao ir da simples mulher que quer uma companhia de uma amiga para um passeio ou jantar a uma psicopata que persegue, aprisiona, tortura e assassina – tudo isso enquanto toca piano, canta e dança. Huppert é uma das melhores atrizes europeias, atualmente (lembrando que em 2017 recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz pelo seu trabalho em “Elle”).

Como caraterística do gênero, o filme não tem cenas assustadoras, porém algumas trazem certas emoções à tona e em certos momentos alguém claustrofóbico pode se sentir um pouco aflito. Há também tentativas de pequenos sustos, nada aterrorizante.

A direção de Neil e a atuação de Isabelle dão à obra um toque de sofisticação, e a transformam em um filme dramático, uma ficção muito bem trabalhada que traz para realidade discussões sobre psicopatas sociais.

por Carla Mendes

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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