Crítica: “Turma da Mônica – Laços”

Sempre falo que, para mim, não existe vida A.M. (Antes de Mauricio), porque ainda pequenina fui inserida nesse universo fantástico em que crianças conhecem o valor da amizade e animais podem ter cores exóticas – e até mesmo falar, por que não?

Quando criamos um vínculo afetivo com alguém / alguma coisa, ficamos felizes em acompanhar sua trajetória e, instintivamente, torcemos pelo êxito de seus projetos. Cada novidade do Universo sempre em expansão criado por Mauricio de Sousa é motivo de celebração para seus fãs, que conseguem a façanha de manterem-se fiéis por décadas a fio.

O lançamento do selo MSP em 2012 trouxe um frescor inesperado ao que já dava certo. Ao permitir que outros profissionais dessem seu toque pessoal à obra original do cartunista, um novo (e muito bem-vindo) leque se abriu para que histórias fossem contadas. Uma delas acaba de sair da limitação do papel e chegar às telas de cinema, no primeiro live-action dos aclamados personagens.

“Turma da Mônica – Laços” é a adaptação do primeiro capítulo da trilogia concebida pelos irmãos Lu e Vitor Cafaggi. Na trama, Mônica (Giulia Benite), Cebolinha (Kevin Vechiatto), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) se unem em uma inesperada jornada em busca do cachorro Floquinho, que foi levado de sua casa pelo misterioso “Homem do Saco” (Ravel Cabral).

Apesar de simples à primeira vista, a história é repleta de camadas que a tornam muito especial. A amizade do quarteto é literalmente o laço mais forte do roteiro escrito por Thiago Dottori, que é bem sucedido em manter a essência tão conhecida pelos fãs e acrescentar elementos que tornam os personagens ainda mais críveis e próximos do público. A cena da encruzilhada se tornou uma de minhas favoritas da vida (dica: leve lencinhos).

A direção magistral de Daniel Rezende tem o dom de conduzir os espectadores de tal maneira que nos sentimos parte do Bairro do Limoeiro, tão lindamente representado em tela. É visível o cuidado extremo em manter intocadas características tão próprias da obra de Mauricio de Sousa: as casas, a pracinha com direito a pipoqueiro (um dos vários easter-eggs espalhados pelo filme) e vendedor de balões; a leitura de jornais / revistas de papel e os aparelhos de telefone com fio.

Em plena era dominada pela tecnologia, em que “brincadeiras de rua” estão praticamente extintas, isso gera uma aura atemporal, até mesmo mística, que encanta os mais jovens e causa uma imensa saudade nos veteranos que puderam viver essa época, na qual as coisas eram mais singelas e também mais duradouras.

Quem leu a graphic novel na qual o longa se baseia, perceberá algumas alterações na história (para dar a dinâmica necessária em tela), assim como a inesperada inclusão de Licurgo Orival Umbelino Cafiaspirino de Oliveira, ou simplesmente Louco (Rodrigo Santoro). O personagem, cuja participação também segue de maneira fiel a linha das HQ’s, mostra ter potencial o suficiente para ser considerado uma boa aposta futura (material de qualidade para isso já existe com a graphic de Rogério Coelho, “Louco – Fuga” – uma de minhas preferidas do selo MSP. Será utopia querer isso?).

Entre tantos acertos, incluindo a eficiente trilha sonora de Fábio Goes, o maior destaque vai para o elenco. Dos protagonistas mirins aos coadjuvantes adultos, a química entre eles é quase palpável. Logo que o quarteto de amigos surge em cena, em meio a mais um dos incontáveis planos “infalíveis” do Cebolinha, é fácil se deixar levar pela ideia de estarmos vendo os personagens em sua versão real.

Ao término da exibição, o sentimento que fica é o de que “Turma da Mônica – Laços” conseguiu o feito de estreitar ainda mais a relação de afeto criada há mais de 60 anos entre Mauricio de Sousa, sua magnífica obra e os fãs que têm o privilégio de ter acesso a ela.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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