Crítica: O Rei Leão

Quando criamos um apreço verdadeiro por alguma coisa, aceitar mudanças pode não ser das tarefas mais fáceis. Mas, essa dificuldade pode ser minimizada ao tratarmos do mundo da fantasia, seja ele visto em livros, filmes ou através de qualquer outro recurso que leve o público a embarcar em histórias que costumam ser bem mais interessantes do que as trivialidades do dia a dia.

Com um amor que já dura 25 anos, receber a notícia da “nova versão” de “O Rei Leão” (The Lion King) até poderia ter me causado estranheza, mas desde o primeiro momento fiquei animada com a possibilidade de reencontrar velhos amigos no cinema e, dessa vez, em uma visão mais realista, que os aproximasse ainda mais do que cremos como verossímil, sem que isso tirasse nem um traço do brilho da animação original.

E o que vi em tela foi um bem-vindo acréscimo ao que para mim, já era perfeito: A trajetória do jovem leão e herdeiro do trono Simba, que precisa crescer longe de seu lar devido à maldade extrema de seu tio que o faz crer ser culpado pela morte do próprio pai. A descoberta de novas e improváveis amizades que fazem a árdua caminhada valer a pena. O retorno às raízes quando as cicatrizes da alma insistem em permanecer abertas.

Todos os elementos que transformaram a animação de 1994 em um dos maiores êxitos da Disney estão nesta nova produção que consegue o incrível feito de aliar o que há de mais assombroso em tecnologia para criar imagens impecáveis e ainda assim, manter a essência da história que por trás de uma aparente simplicidade carrega traços bem mais complexos.

Os leões continuam responsáveis pela carga dramática do filme – seja com os ensinamentos emblemáticos do soberano Mufasa, a inocência e carisma nato de Simba, a força e coragem que Nala mostra desde filhote ou o terror que Scar espalha apenas com sua presença. A sabedoria segue bem representada pelo zeloso e fiel pássaro Zazu e pelo macaco Rafiki e seu respeito às tradições e aos antepassados.

Já os momentos cômicos, como era de se esperar, ficam a cargo em quase sua totalidade de uma das duplas mais icônicas da história: o javali Pumba e o suricato Timão, que em sua forma mais realista conseguem divertir tanto quanto os personagens animados com seus diálogos que transitam entre o brilhantismo de frases como “Quando o mundo vira as costas para você, você vira as costas para o mundo” e a terapia de auto-estima que ensina a viver uma vida sem problemas. Hakuna Matata!

A trilha sonora que tanto marcou a legião de fãs está presente com algumas modificações e o acréscimo da inédita “Spirit”, interpretada por Beyocé Knowles (que também dá voz à Nala em sua fase adulta, na versão original). E, aos primeiros acordes de “Circle of Life” (ou “Ciclo Sem Fim” como foi traduzida no Brasil), já é possível perceber que a emoção estava apenas adormecida depois de tantos anos, mas que continua mantendo nossos corações aquecidos.

Quanto ao temor de que os personagens perdessem parte de seu encanto, afinal “animais têm expressões faciais limitadas”, este cai por terra facilmente para quem consegue entender que a importância está nos detalhes: em cada cauda que se abaixa indicando medo, em cada orelha que se movimenta mais rápido na iminência de um ataque, em cada postura que vai da mais altiva a mais cabisbaixa conforme o que domina o animal no momento. São sutilezas que, quando somadas, tornam-se tão eficientes quanto as diversificadas expressões “mais humanizadas” conseguidas através da animação.

Enfim, seja graças a seu visual que ultrapassa a descrição de deslumbrante ou à sua história atemporal e cheia de significados, “O Rei Leão” ruge alto e mostra força neste retorno aos cinemas.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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