Crítica: “Anna – O Perigo tem nome”

Dentre as instituições da finada União Soviética, é provável que não haja alguma mais polêmica que a KGB (Комите́т Госуда́рственной Безопа́сности, Comitê para a Segurança do Estado). A instituição tinha a função de agência de segurança, de inteligência e contra-espionagem, e de polícia secreta. Fundada em 1954, a agência foi responsável por vários assassinatos, torturas, e até mesmo golpes contra os presidentes do país, um deles resultou na dissolução da própria, quando uma tentativa de derrubar Mikhail Gorbachev falhou, e seu sucessor, Boris Yeltsin, ordenou que a agência fosse extinta.

E é sobre uma agente desta sinistra instituição que o filme “Anna – O Perigo tem nome” (Anna) trata. Durante os últimos anos da URSS e da KGB, a jovem Anna (Sasha Luss) é recrutada como uma agente de inteligência e assassina. Com o mundo da moda e dos desfiles de modelos como disfarce, Anna usa de sua inteligência, habilidades físicas e beleza, para adquirir informações e assassinar seus alvos. Porém uma reviravolta mudará tudo para ela.

O filme é o mais novo trabalho de Luc Besson, que não só dirigiu como é o roteirista. Como típico em vários de seus trabalhos, temos uma personagem principal mulher, extremamente hábil e bela. O longa tem muitos elementos em comum com “Nikita – Criada para matar” (La Femme Nikita), que como “Anna”, tem como diretor e roteirista Besson. Ambos contam histórias de jovens retiradas de uma vida decadente e auto-destrutiva, para trabalhar para uma agência governamental sinistra como assassina.

Por sua vez, “Anna” tem seus próprios méritos. Em primeiro lugar, a estrutura não linear do filme para representar segredos e sub-tramas que se entrelaçam e se sobrepõem, de maneira que existem vários plot-twists, bem conduzidos em sua maioria. A coreografia das lutas e tiroteios também estão feitas de maneira magistral e demonstram a evolução de Anna, de aprendiz até uma assassina consolidada, com ela cometendo cada vez menos erros, porém sem deixar de demonstrar seu desgaste físico – algo que filmes de ação normalmente ignoram.

Um elemento muito interessante da produção é sua fotografia, que não só dá a noção do espaço muito bem, mas traz uma beleza única a cenários que já seriam belos. Outra coisa interessante é que em várias cenas que o foco é Anna, os ângulos refletem muito o mundo da moda.

A trilha sonora é pontuada pela presença de músicas eletrônicas bem populares do fim dos anos 1980 e começo dos 1990. A música composta para o filme é boa, continuamente tensa, porém não chega aos pés de outras composições de Eric Serra, colaborador de longa data de Besson, compondo para vários filmes do diretor, dentre eles “Nikita” e “O Quinto Elemento”.

As interpretações estão medianas, e quem rouba a cena é Helen Mirren como Olga, a superiora de Anna, comparável ao “M” de James Bond, mas sem se tornar uma cópia do personagem da franquia. Sasha Luss não atua de maneira ruim, porém ainda precisa melhorar seu trabalho, que oscila entre exagerado e apático, porém atingindo pontos de equilíbrio em alguns poucos momentos que demonstram um potencial da atriz/modelo.

Um dos pontos fracos do filme está em sua estrutura. Ainda que seja interessante a não-linearidade dos segmentos para manter o suspense e as sub-tramas ocultas, isso acaba por se tornar em vários momentos confuso ao ficar indo e voltando no tempo. Outro elemento estranho são certos anacronismos: Em várias cenas a tecnologia aparenta ser do meio dos anos 1990, quando o filme se passa no fim dos anos 1980. Além de que segundo as indicações de tempo dentro do filme, certas partes se passam após a queda da União Soviética, que resultou no fim da KGB, que foi dividida em outros órgãos.

“Anna – O Perigo tem Nome” é um título interessante de se assistir, particularmente para os fãs de filmes de espionagem e ação, e querem uma opção mais inteligente que o filme comum destes gêneros.

por Ícaro Carvalho

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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