Crítica: A Grande Mentira

Para quem conhece a trajetória de sucesso e eficiência da dupla, o protagonismo de Helen Mirren e Ian McKellen já seria um bom motivo para dar atenção ao drama “A Grande Mentira” (The Good Liar). O que torna o filme ainda melhor é o fato de contar uma intrigante história que, apesar de parecer bastante óbvia no começo, consegue uma apresentar uma incrível progressão de surpresas conforme avança em tela.

Roy Courtnay (Ian McKellen) é um experiente vigarista que tem a milionária viúva Betty McLeiseh (Helen Mirren) como a mais recente vítima de sua extensa lista. O casal se conhece através de um aplicativo de encontros – sequência que marca a exibição dos créditos iniciais de maneira primorosa: enquanto eles trocam mensagens via computador, as informações sobre o longa são exibidas na forma de documentos datilografados – com direito ao saudoso som produzido pelas máquinas de escrever de outrora.

Após o primeiro encontro pessoalmente, há uma rápida sucessão de fatos e quando nos damos conta, Roy está morando na casa de Betty – com a justificativa de que precisa se recuperar de uma lesão no joelho. A intimidade instantânea do casal preocupa Stephen (Russel Tovey), neto único de Betty, que não enxerga com bons olhos a presença de um estranho na casa de sua avó.

Disposto a encontrar algo que possa colocar a suposta reputação elibada de Roy em risco, Stephen será o responsável por descobertas capazes de arrebatar boa parte da plateia que poderia imaginar um rumo bem diferente para o roteiro escrito por Jeffrey Hatcher, pelas cenas até então apresentadas.

Tudo no longa dirigido por Bill Condon funciona. As interpretações estão impecáveis e há uma louvável preocupação com detalhes dos cenários e locações (a história se passa em Londres e Berlim) os quais, depois de concluída a narrativa, percebemos que estavam lá como pequenas peças de um intrincado quebra-cabeças.

Particularmente, eu gosto muito de produções com reviravoltas que não acontecem apenas para chocar o público, mas que apresentam um claro sentido. “A Grande Mentira” é um ótimo exemplo de que isso é possível, ao entregar diversos momentos aparentemente conclusivos, para depois mostrar que ainda há muito mais a se acrescentar para fazer da trama algo memorável.

Ao contrário de várias outras adaptações cinematográficas que vi depois de ter lido as obras nas quais se baseiam, dessa vez fiz o caminho contrário e cheguei à sala de cinema apenas com as informações contidas no trailer oficial. Acredito que isso tenha sido um diferencial para minha experiência, já que realmente me surpreendi com certas decisões tomadas pelo roteiro. Quando tiver a oportunidade de acompanhar a história nas páginas do livro homônimo de Nicholas Searle, espero que esta seja tão cativante quanto foi vê-la na tela.

No fim, a grande verdade é que vale muito a pena conferir o drama (com precisas doses de suspense) no cinema.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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