Crítica: Brooklyn sem Pai nem Mãe

O mote de “Brooklyn sem Pai nem Mãe” (Motherless Brooklyn) já se estabelece no início do longa baseado no livro homônimo de Jonathan Lethem, que também é um dos roteiristas da adaptação cinematográfica.

Edward Norton (que, além de protagonizar, também roteiriza e dirige a produção) é Lionel Essrog, um detetive particular que trabalha em uma agência liderada por Frank Minna (Bruce Willis). Após o assassinato de seu mentor, Lionel passa a buscar pistas que o levem aos reais motivos do crime.

Quando pensamos em tramas sobre detetives, certos pontos surgem como “padrão”: o clima mais sisudo, carregado em tons frios; a trilha impactante e onipresente (aqui, criada por Daniel Pemberton), que se torna fundamental para que o espectador embarque na narrativa passada nos anos de 1950; e, é claro, a conduta discreta do personagem.

O drama biográfico cumpre à risca os dois primeiros itens e surpreende ao colocar como protagonista um portador da Síndrome de Tourette, que faz com que ele não tenha controle sobre as coisas que diz (causando constrangimentos inesperados com suas declarações sinceras a toda prova), além de também apresentar vários tiques nervosos – que incluem ter que tocar repetidas vezes no ombro de seus interlocutores.

Como já era de se esperar, quanto mais o protagonista se empenha no caso, mais coisas ocultas são trazidas à tona, culminando em uma descoberta que envolve falcatruas políticas, racismo (velado e às claras) e a percepção de quem nem sempre conhecemos as pessoas a fundo, ainda que nos sintamos confortáveis com essa ideia em boa parte de nossas vidas.

Com uma duração longa de 145 minutos, o filme tem seus altos e baixos. Algumas cenas poderiam ser encurtadas, assim como certos diálogos e ações que acabam se tornando repetitivos após certo tempo. Ainda assim, há um grande mérito no drama policial, que consegue manter o suspense e boas reviravoltas até seus momentos finais, sem perder a qualidade de sua narrativa.

Vale destacar a extrema qualidade do elenco que ainda conta com nomes de peso como Willem Dafoe e Alec Baldwin, que dão vida a dois personagens de fundamental importância para o desenrolar satisfatório e convincente de algumas ramificações da trama principal.

Quem gosta do gênero, já vai entrar na sala de cinema ciente de que como outros títulos semelhantes, o longa não conta com o que se pode chamar de ação desenfreada, fazendo mais uso de elementos que levam o espectador a refletir a fim de também descobrir o que será apresentado na tela.

Ou seja, apesar do ritmo mais lento e da duração extensa – quando comparada à maioria das produções atuais – “Brooklyn sem Pai nem Mãe” continua sendo uma boa pedida, embora com ressalvas para os que preferem algo mais energético e efusivo.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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