Crítica: Tel Aviv Em Chamas

Em uma primeira análise, parece difícil enxergar qualquer coisa que possa ser minimamente engraçada no conflito israelense-palestino. Mas, acredite: é isso que a comédia originária de Luxemburgo, Israel e Bélgica, “Tel Aviv Em Chamas” (Tel Aviv On Fire), consegue apresentar, ao inserir tal assunto em seu roteiro da maneira mais inusitada, e ainda assim sem faltar com o respeito de forma impensada.

A trama gira em torno da série ficcional que dá nome ao longa, cuja narrativa transita entre espionagem clássica e romance escancarado, com a ação da obra televisiva se passando pouco antes da Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967.

O protagonista do longa é o árabe Salam (Kais Nashif), sobrinho de Bassam (Nadim Sawalha), dono do canal de TV, que se se torna um dos roteiristas da série após um mal-entendido que leva a equipe a acreditar que ele é o responsável pela criação de cenas que levam a história a outro patamar em busca da manutenção da audiência e atenção do público que acompanha cada capítulo da produção.

O palco para tal equívoco é a barreira militar montada na fronteira entre as cidades de Tel Aviv e Jerusalém, pela qual Salam precisa passar diariamente – e que mostra a dura realidade de quem de fato necessita enfrentá-la na vida real. Lá, ele conhece Assi (Yaniv Biton), General israelense que, após encontrar documentos referentes à “Tel Aviv Em Chamas” em seu carro, decide opinar – de maneira bastante contundente – no que deve acontecer na série, que é a preferida de sua esposa.

Tal parceria inusitada acaba se mostrando benéfica para ambos: enquanto Salam ganha a confiança necessária para escrever o roteiro de cada episódio, Assi consegue transportar para a tela ações que gostaria de ver em sua vida real, inclusive inserindo frases imediatamente reconhecíveis para sua esposa nos diálogos do casal de protagonistas.

Caberá a Salam equilibrar as exigências de Tala (Lubna Azabal) – atriz francesa que dá vida à “mocinha” da série, as obrigatoriedades do tio e dos patrocinadores da obra e a expectativa cada vez mais limitadora de Assi. Some-se a isso, a tentativa de reconquistar sua ex-namorada Mariam (Maisa Abd Elhadi) e todos os elementos para garantir a diversão dos espectadores estão garantidos pelos 101 minutos de duração da comédia.

Existe uma nítida preocupação em não se ultrapassar nenhum limite que pudesse colocar o filme em uma posição desconfortável, afinal, embora trate de um assunto bem mais leve, ainda existe um viés político por trás de seu roteiro. E isso foi muito bem cumprido pelo diretor Sameh Zoab (que também é roteirista ao lado de Dan Kleinman), que entrega um resultado que consegue ganhar a simpatia da plateia de maneira fluida e eficaz.

Vale muito a pena conferir.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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