Crítica: A Última Jornada

Um mundo cuja realidade atual apresenta um perigo desconhecido que já dizimou a maior parte da população mundial. Embora este ponto de partida não seja exatamente o que pode ser chamado de criativo – já que histórias passadas em realidades distópicas costumam ter essa base, ou algo semelhante – existe mérito em “A Última Jornada” (The Last Boy).

Dirigida por Perry Bhandal (que também é responsável pelo roteiro), a produção do Reino Unido gira em torno da jornada do garoto Sira (Flynn Allen), que, a pedido de sua mãe, recém-falecida, segue em busca de um misterioso lugar que teria o poder de realizar desejos.

Essa caminhada se dá em meio ao perigo invisível a quem de “O Vento”, cujo poder destrutivo acaba com aqueles que por ele são tocados. Como única proteção, o protagonista conta com um scanner portátil que parece ter a capacidade de afastar a ameaça desconhecida.

Durante o caminho, ele conhece algumas figuras que servem como nítidos parâmetros de como as pessoas reagem diante das adversidades. Entre elas, a menina Lilly (Matilda Freeman), que se torna uma espécie de irmã mais nova, a quem Sira se vê na obrigação de proteger e levar consigo até o local almejado para, quem sabe, ambos realizarem seus desejos.

O lado cruel da raça humana surge na forma de uma figura que, devido à vestimenta característica, lembra um monge, mas cujas atitudes estão longe de confirmar tal impressão. Ainda que de forma sutil, existe uma incisiva menção ao abuso de mulheres e poder, o que torna tal personagem imediatamente merecedor do asco dos espectadores e o transforma no vilão reconhecível da trama.

Ainda que seja comum em obras distópicas não apresentar muitos detalhes – talvez para que cada espectador consiga tirar suas próprias conclusões diante de fatos pouco triviais – a sensação é a de que há mais coisas em aberto do que seria o desejado na produção.

Depois da maior parte do drama acontecer sob um ritmo mais puxado para o lento, os momentos finais ganham uma nova vida, no momento em que a frase do poeta, jurista e teólogo persa, Maulana Jalaladim Maomé (mais conhecido como Rumi), vista no início do filme, começa a fazer sentido. E, depois dessa súbita elevação, o resultado, embora condizente, não parece ser tão eficaz quanto poderia/deveria.

Há de se destacar o fato de que, por acontecer em um ambiente menos urbano, “A Última Jornada” é visualmente bonito, com as tomadas em campo aberto apresentando ótimas cores e servindo para mostrar como ficamos diminutos diante da grandeza dos elementos da natureza.

Para fãs de narrativas com poucas explicações e que têm finais abertos. Já disponível em versões dubladas e legendadas, nas seguintes plataformas digitais: NOW, Looke, Microsoft, Vivo Play, Google Play e Apple TV.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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