Crítica: Quando Hitler roubou o coelho cor-de-rosa

“Quando Hitler roubou o coelho cor- de- rosa” (Als Hitler Das Rosa Kaninchen Stahl), é mais um entre tantos relatos da tormenta enfrentada por judeus com o fortalecimento do movimento antissemitismo difundido inicialmente na Alemanha no século passado. A direção é de Caroline Link, vencedora do Oscar em 2001 na categoria Melhor Filme Estrangeiro com “Lugar Nenhum na África” (Nirgendwo in Afrika).

É uma adaptação do livro infantil publicado em 1971, escrito por Judith Kerr, que se inspirou em sua própria jornada para construção da narrativa. A ficção tem uma visão mais branda dos transtornos causados após os nazistas assumirem o controle do governo alemão, afinal estamos sendo apresentados aos fatos por meio dos olhos de uma criança.

Na trama roteirizada por Caroline Link e Anna Brüggemann, acompanhamos Anna Kemper (Riva Krymalowski), uma menina de nove anos que é obrigada a deixar uma vida confortável, e o que até então chamava de lar, para fugir com a família, tornando-se desta forma refugiada. É neste ponto em que é obrigada a escolher apenas um entre seus bichos de pelúcia, que os laços começam a se romper.

A pelúcia, a babá que esteve com a família desde que a garota consegue se lembrar, a casa grande e agradável, o padrinho, tudo isso cortado de uma maneira brusca demais para que uma criança consiga entender ou aceitar.

O pai de Anna, Arthur (Oliver Masucci), é um famoso crítico das artes, contudo ele também é judeu e publica artigos expondo sua desaprovação aos caminhos governamentais. Deste modo, ele e a família tiveram que fugir da Alemanha, antes mesmo das eleições que podiam eleger Adolf Hitler.

O longa reforça muito os dois lados de uma mesma face: em dado momento ouvimos “nem todo alemão é nazista” e posteriormente temos cenas que reforçam que nem todo nazista é alemão. O preconceito que em tempos de guerra não era exclusividade dos alemães, e sim de simpatizantes de Hitler e seus ideias que estavam por toda Europa.

Vemos o que acontece com quem conseguiu fugir do extermínio, a busca por um novo lar, a necessidade de aceitação, as tentativas de reconstruir a vida. E com a visão de Anna, acompanhamos as dificuldades em se adaptar ao novo futuro que é complemente incerto: novas escolas, novos idiomas, novos países, uma nova condição financeira, novos amigos.

Produção belíssima, com foco em pequenos detalhes, “Quando Hitler roubou o coelho cor- de- rosa”  é bem didático. E confesso que é um pouco desconfortável perceber que por vezes vemos erros do passado serem repetidos constantemente.

Vale muito conferir.

por Carla Mendes

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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