Crítica: O Advogado

Há muitas formas de chamarmos a atenção para questões dos Direitos Humanos e a arte por vezes é usada como meio de expansão e extensão de debates urgentes. O drama lituano “O Advogado” (Advokatas / The Lawyer) trata de assuntos atuais e extremamente necessários.

Por meio da perspectiva do diretor e roteirista Romas Zabarauskas, somos apresentados a Marius (Eimutis Kvosciauskas), um advogado promissor que leva uma vida agradável e desfruta do melhor dentro de sua zona de conforto.

O filme já tem em sua cena inicial uma ampla discussão sobre os padrões de relacionamentos esperados pela sociedade heteronarmativa e o reflexo disso em relações LGBTQIA+. Apesar do diálogo entre os personagens ter um tom mais educativo, ainda sim a colocação é pertinente.

O advogado deseja um relacionamento estável e duradouro, mas enquanto não encontra seu par, procura prazer em profissionais do sexo, e é em um site de stripper que ele conhece Ali (Dogac Yildiz).

Nesse ponto é aberto outro parênteses no roteiro: Ali é um refugiado sírio na Sérvia, bissexual e refém de uma cultura patriarcal em que pessoas LGBTQIA+ ainda sofrem as mazelas da descriminação e do preconceito.

A partir da introdução do personagem temos (mais uma vez) sequências de diálogos explicativos sobre como é ser refugiado e como é ser refugiado gay. A ideia não é ruim e, reforço, é necessária. Contudo, a forma um tanto quanto “pedagógica” com que os temas são abordados deixam as cenas menos emocionantes, não parece algo orgânico.

Em dado momento tentam discutir o que é religiosamente correto e a pergunta “Você acredita em Deus?” é jogada na roda, seguida de um discurso orquestrado sobre a importância de se ser uma boa pessoa.

A atuação de Dogac é a que segura o longa. O ator demonstra estar muito mais confortável nos momentos de envolvimento físico entre os protagonistas. Já Eimutis não se entrega com tanta paixão ao personagem.

Observamos diversos dilemas da comunidade LGBTQIA+ como a aceitação familiar, padrões heteronormativos, preconceitos enfrentados dentro do próprio meio, a dificuldade em estabelecer laços duradouros. Também somos apresentados a dramas externos como a situação dos refugiados, ética profissional, entre outros por menores.

A partir de determinado momento, o drama foca exclusivamente nas questões românticas que unem o advogado ao refugiado, e a partir disto nos questionamos se os fins realmente justificam os meios. Uma paixão fugaz pode fazer com que o mais sensato dos homens haja contra o que é judicialmente correto?

Em resumo, “O Advogado” é um filme em que os acontecimentos são paulatinos, temas muito importantes são expostos de maneira calculada, há abertura de vários parênteses, mas não tenho certeza  se foram devidamente fechados.

Entretanto, é de extrema importância que tais tópicos ganhem cada vez mais espaço. Apoiar produções que promovam a quebra dos estereótipos é uma forma de contribuir para inclusão.

O drama está disponível na plataforma Cinema Virtual. Confira.

por Carla Mendes

*Texto publicado originalmente no site A Toupeira.

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