Crítica: Depois a Louca Sou Eu

Embora não seja algo exatamente novo, o Transtorno de Ansiedade – e todas suas consequências – ganhou contornos bem mais consistentes nos últimos anos, seja pelo ritmo frenético da rotina atual, seja pela maior possibilidade de acesso a informações que caracterizem o quadro.

A trama de “Depois a Louca Sou Eu” tem a difícil tarefa de apresentar o assunto de maneira a torná-lo mais leve (a ponto de se transformar em pauta para uma comédia), ao mesmo tempo em que mostra os complicados elementos com os quais alguém diagnosticado com a patologia tem que conviver (o que acrescenta toques de drama à narrativa).

Dani (Débora Falabella, em atuação incrível), uma publicitária cuja rotina está longe de ser ideal, é a protagonista da história. Insatisfeita com sua vida pessoal e profissional, ela ainda tem que encarar crises de ansiedade que a acometem desde muito jovem – os flashbacks de sua infância fazem rir pelo excelente texto que os acompanham, assim como impressionam ao mostrar que a personagem luta há tantos anos contra um mal invisível e, aparentemente, sem solução.

Ao acompanhar o dia a dia de Dani, somos apresentados à sua mãe Sylvia (Yara de Novaes), cuja participação é bastante contundente na formação emocional da filha. Ao superproteger a garota, e fazer uso de questionável chantagem emocional, ela contribui para as recorrentes tentativas falhas da filha em se recuperar de maneira real.

Também conhecemos o terapeuta Gilberto (Gustavo Vaz), que, ao lado da protagonista, mostrará a grandeza de se assumir falho e o quanto isso pode ser fundamental para que consigamos nos reconhecer como merecedores de algo melhor.

Julia Rezende consegue entregar uma direção certeira e que transporta o livro de Tati Bernardi (no qual o filme se baseia) às telas de maneira a prender a atenção do espectador do início ao fim. O ritmo sob o qual a história é contada imprime uma identidade própria à produção que proporciona momentos divertidos, reflexivos e comoventes com a mesma facilidade.

A narração em off, o inteligente uso das cores e até mesmo uma sequência em animação, junto ao roteiro de Gustavo Lipsztein que mescla informações, comédia e drama. Essa junção de boas escolhas é o que dá a “Depois a Louca Sou Eu” um resultado tão interessante e eficaz.

O mais importante a destacar é que não existe nenhum julgamento sobre as atitudes, pensamentos ou decisões de Dani (e, por consequência, dos portadores do transtorno). A ansiedade deixa de ser tratada como algo a ser “escondido” para se tornar um assunto a ser levado em consideração – o que é muito louvável em tempos em que banalizar as coisas e tachar as pessoas como “louca” é algo tristemente corriqueiro.

Em recente Coletiva de Imprensa Virtual, a produtora do filme, Mariza Leão, afirmou a vontade de trazer a personagem de volta em alguma produção futura – provavelmente em uma série televisiva. Já fica a torcida para que tal projeto se concretize.

Vale conferir.

por Angela Debellis

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