Crítica: “Quem vai ficar com Mário?”

Uma comédia cuja narrativa principal gira em torno da sexualidade de seu protagonista poderia ter tudo para não dar certo, caso não houvesse o mínimo de cuidado ao se tratar de um assunto que, ainda nos dias de hoje, segue complicado para alguns.

Felizmente, “Quem vai ficar com Mário?” encontra a medida certa para falar sobre o tema de maneira que seja leve e divertida, sem que isso signifique ofender qualquer parte de sua audiência.

Dirigido por Hsu Chien, o remake do longa italiano de 2010, de Ferzan Özpetek, “O Primeiro que disse” (Mine Vaganti), conta a história de Mário Brülich (Daniel Rocha), escritor de 30 anos que decide visitar a família em sua terra natal, Nova Petrópolis / Rio Grande do Sul, para, finalmente contar sobre seu relacionamento com o diretor de teatro Fernando (Felipe Abib), com quem mora há quatro anos no Rio de Janeiro.

Sabendo das dificuldades que teria, uma vez que seu pai Antônio (Zé Victor Castiel) é homofóbico, o jovem ainda precisa lidar com a surpresa de ver seu irmão mais velho, Vicente (Rômulo Arantes Neto), assumir-se gay antes dele, o que complica mais a situação.

Mário é então convocado pelo pai para assumir a frente da fábrica de cervejas da família, mesmo que seja nítida sua inaptidão para tal tarefa. E é nesse momento que conhece Ana Melo (Letícia Lima), a consultora contratada por seu irmão para ajudar a aumentar as vendas da marca. De maneira inesperada, o protagonista manifesta interesse pela moça e começa a questionar sua (até então bem resolvida) orientação sexual.

À parte do protagonismo do personagem interpretado por Daniel Rocha, o longa passa quase sua totalidade intercalando piadas clichês de duplo sentido e frases descabidas (ainda mais quando nos lembramos de estar em pleno século XXI) – tanto de Antônio, quanto de seu genro, Salvador (Marcos Breda) – e revides por parte de Ana e da irmã mais nova de Mário, Bianca (Elisa Pinheiro). É um debate extremamente necessário e que ajuda a embasar a história, mas que acaba parecendo repetitivo em alguns momentos.

O grande destaque da produção fica para o trio formado por Lana de Holanda (Nany People, diva como sempre), Kiko (Victor Maia) e Xande (Nando Brandão), componentes da companhia teatral “Terceira Força”. As ótimas sequências protagonizadas por eles, quando se passam pela mãe e irmãos de Fernando – diante dos parentes de Mário – são as que mais têm tendência a fazer o público rir de verdade.

Com roteiro de Stella Miranda, Luis Salém e Rafael Campos Rocha, a mensagem de “Quem vai ficar com Mário?” e de sua canção-tema, “O Menino e o Espelho” (interpretada por Pabllo Vittar), pode parecer bastante simples, mas carrega uma importância imensa, não só na atualidade, mas sempre: “Tenha coragem de ser feliz”.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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