Crítica: “O Urso do Pó Branco”

Criatividade é algo que anda em falta em Hollywood, com a maioria das produções parecendo pouco (para não dizer nada) originais. A boa notícia é que de vez em quando surge algo novo e traz um frescor ao que se mostra batido.

É o caso de “O Urso do Pó Branco” (Cocaine Bear), longa dirigido por Elizabeth Banks, cuja trama é baseada em fatos tão surreais que nem mesmo os mais criativos roteiristas conseguiriam pensar em um absurdo tão grande. A vida pode ser assustadora, às vezes.

Na história passada em 1985, um traficante de drogas despeja uma grande carga de cocaína em uma reserva florestal no estado americano da Geórgia. A droga, sob o formato de pacotes prensados – se espalha pelo local e é encontrada em partes por um imenso urso preto que ali reside.

O resultado? O animal cria gosto pelo entorpecente e todos os efeitos colaterais causados por ele. O piloto? Bom, o destino dele não foi dos melhores e, após livrar-se da remessa ilegal, ele pula do avião e morre por uma falha em seu paraquedas.

Se na vida real, o urso em questão acaba tendo um ataque cardíaco fulminante, logo depois da ingestão acidental que ocasiona uma overdose, no filme roteirizado por Jimmy Warden, acontecem muito mais coisas e, acredite: vemos de tudo em tela.

Interagindo com o protagonista que dá nome à obra, estão vários personagens humanos, com narrativas transitando entre pouco interessantes (mais para preencher espaço mesmo) a bem bacanas, como é o caso de Sari (Keri Russell) e Eddie (Alden Ehrenreich), que foram incumbidos pelo chefão no narcotráfico, Syd (Ray Liotta, em seu trabalho derradeiro) de recuperar o máximo possível do carregamento que teria como destino a Colômbia, a fim de evitar problemas envolvendo suas respectivas famílias.

É claro que isso não é das tarefas mais fáceis de executar, ainda mais quando percalços surgem no meio caminho (incluindo uma inusitado pausa para descanso que rende boas risadas nos espectadores).

O mais atrativo em “O Urso do Pó Branco” é que não sabemos o que esperar de cada cena. Se em um momento, há uma queda para a comédia escrachada (o que faz rir sem esforço), em outro, pulamos para o terror gore (com direito a bons litros de sangue cenográfico e membros decepados).

Ainda há espaço para resolução de situações familiares e aleatórias – ponto em que se destaca a interpretação do jovem ator Christian Convery, como o espevitado (e levemente mentiroso / metido a esperto) Henry.

Não me parece um total disparate imaginar que existe alguma pretensão de se fazer uma sequência, dependendo, obviamente, da recepção do público. A partir do que foi apresentado, dá para dizer que as possibilidades de se continuar criando novas – e insensatas – histórias são imensas.

por Ana David

*Texto originalmente publicado no site CFNotícias.

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