Crítica: “Um Filme de Cinema”

É provável que todo fã da sétima arte já tenha, em algum momento, feito o seguinte questionamento: Será que no longínquo ano de 1895, quando os irmãos Auguste e Louis Lumière criaram o cinematógrafo, eles tinham ideia do que viria após, da dimensão que isso tomaria, tanto tempo depois?

Tal encantamento provocado pelas imagens em movimento é o tema de “Um Filme de Cinema”, longa nacional escrito e dirigido por Thiago B. Mendonça, cuja trama gira em torno de Bebel (Bebel Mendonça), que tem que fazer um trabalho para a escola, no qual deverá contar uma história. Ela  e três colegas que formam seu grupo escolhem um formato para tal tarefa, cujas possibilidades são quase infinitas: eles decidem fazer um filme.

Para a empreitada, Bebel terá a ajuda de seu pai Thiago (Rodrigo Scarpelli), cineasta que passa por uma crise criativa e que vê com simpatia a ideia da filha, que será colocada em prática através das gravações realizadas com uma câmera caseira.

Sem um roteiro pré-definido, a produção dos jovens estudantes não tem um caminho rígido a ser seguido e seu conteúdo é composto por depoimentos que, embora sejam sobre o mesmo assunto (a vida), tornam-se únicos, de acordo com as experiências e bagagens de cada um que explana seus sonhos diante da lente. Desses, o mais tocante é o de um senhor em situação de rua, conhecido como Formigão (Carlos Francisco).

Através de canções originais (a trilha é composta por Zeca Loureiro), Bebel faz um passeio por momentos icônicos do cinema e conta, de maneira simples, partes da história escrita por nomes como Georges Méliès, Charlie Chaplin e Buster Keaton. Sem nenhuma pretensão de ser um grande documentário sobre o assunto, o longa não merece ser julgado por sua singeleza (que, pode ser mal entendida por quem procura defeitos em tudo), já que este pode ser seu ponto mais forte, no intuito de atrair um público mais novo, mas sem desagradar por completo os adultos.

Imagens em preto e branco e cenários que remetem a clássicos como “O Mágico de Oz” ajudam a criar uma aura ainda mais lúdica e colocam Bebel no centro da ação. Assim como as escolhas de seus colegas de grupo, cujas preferências por gêneros cinematográficos variados acabam gerando um resultado diferente o suficiente para ser celebrado (de maneira totalmente inesperada).

Em uma de suas muitas conversas, Thiago diz à filha que ela deveria completar com a imaginação, todas as imperfeições do mundo. Creio que este seja um conselho que mais pessoas deveriam seguir.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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