“Eu aprendi a não conviver pacificamente com o que está errado”. É com essa ideia que a protagonista de “Chama a Bebel” toma para si algumas grandes responsabilidades e, desde os primeiros momentos do longa escrito (junto a Ricky Hiraoka), produzido e dirigido por Paulo Nascimento, consegue ganhar a atenção e a simpatia dos espectadores.
Interpretada por Giulia Benite (que também atua como produtora associada), Maria Isabel dos Santos – a Bebel, do título – é uma jovem de 15 anos, que nutre um imenso amor pela mãe Mariana (Larissa Maciel) e o avô Juca (José Rubens Chachá), com quem mora na cidade gaúcha de Guaíba.
Consciente da urgência de se lutar pela manutenção da vida sustentável na Terra (afinal, como ela mesma diz, não temos um “Planeta B”), a garota – que tem na ativista e ambientalista sueca Greta Tunberg, uma forte inspiração – se verá diante dos desafios que a mudança para outra cidade maior trarão, devido a compromissos escolares.
Essa nova etapa de sua vida envolverá obstáculos concretos (Bebel é cadeirante e muito do que a cerca não é adaptado às suas necessidades) e emocionais – já que será vítima de bullying em seu novo colégio, nem tanto por suas limitações físicas, mas por suas propostas inovadoras.
Tais ideias (todas pertinentes, aliás) chamam a atenção de alunos e professores e, por consequência, tiram os holofotes de Rox (Sofia Cordeiro), adolescente mimada que vê no fato de ser filha do magnata da cidade, Jorge Vieira e Castro (Marcos Breda), um motivo para achar-se superior a todos.
As provações afetivas também chegam sob a forma do tratamento inadequado – entenda-se grosseiro – dispensado por sua tia Marieta (Flávia Garrafa), que se torna responsável por ela durante o período letivo da semana. Mas, a cada sequência mostrada em tela, Bebel confirma ser diferente e, por mais que se ressinta com a situação, não se deixa abater (Bravo!).
Por outro lado, ela logo nota que poderá contar com seu primo Beto (Antônio Zeni), seu tio Enrico (Evandro Soldatelli), seu professor Denis (Rafa Muller) e o amigo recente, Zico (Gustavo Coelho). Talvez pareça pouco, mas a verdade é que, apesar do que tantos pensam, nem sempre quantidade importa mais do que qualidade e, nesse caso, bons relacionamentos (ainda que poucos) têm um peso imensurável.
Se o meio-ambiente é um assunto relevante, assim também é a questão de maus tratos animais, em especial no que diz respeito a testes realizados pela indústria de cosméticos. Essa pauta – levantada de maneira competente na narrativa do filme – por egoísmo humano e óbvios interesses financeiros, está longe de ser resolvida na vida real, mas não deixa de ser reconfortante saber que, desde fevereiro de 2023, tal atrocidade é proibida por lei no Brasil.
Mesmo tratando de assuntos mais sérios do que os vistos comumente em obras infanto-juvenis, não existe nenhuma aura mais pesada do que o recomendado em “Chama a Bebel”. Pelo contrário. Com uma duração de 90 minutos, a produção é bastante agradável de assistir, mesmo por quem não faz parte do público-alvo.
Como destaque, além da boa atuação de Giulia Benite (muito segura em cena), vale ficar atento aos créditos finais que trazem informações sobre alguns fatos reais que serviram de inspiração para o roteiro, com histórias que merecem ser descobertas (ou relembradas) pela audiência em geral.
Fica o desejo de que mais pessoas – não importando sua idade – tenham o pensamento semelhante ao de Bebel: “Eu não vou salvar o mundo. Eu quero fazer o que eu posso”.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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