Crítica: “Os Rejeitados”

Rejeição, em sua essência mais profunda, é uma palavra triste – seja qual for o âmbito no qual ela acontece: familiar, amoroso, escolar, profissional. Ser preterido, quando precisamos de acolhimento, sempre dói.

Mas, parece fácil imaginar que, quanto mais abastada a pessoa, menos tal desprezo do outro importe. O que está longe de ser verdade e o que é tão perfeitamente mostrado através da narrativa de “Os Rejeitados” (The Holdovers).

Laureado mais de trinta vezes nesse começo da temporada de premiações (inclusive, com duas recém-conquistadas estatuetas no Globo de Outro), o longa dirigido por Alexander Payne chega aos cinemas brasileiros com ares de favoritismo em algumas categorias na vindoura cerimônia do Oscar.

A trama se passa nos Estados Unidos, durante as festividades de Natal e Réveillon de 1970, quando determinados alunos da renomada Academia Barton se veem obrigados a permanecer no campus durante as duas semanas de recesso, uma vez que, pelos mais diversos (e absurdos) motivos, foram rejeitados por suas famílias e não têm para onde ir nos feriados.

Para supervisionar os estudantes, o diretor Hardy Woodrup (Andrew Garman) designa Paul Hunham (Paul Giamatti), um rabugento professor de Civilizações Antigas, pouco apreciado pelos adolescentes que frequentam suas aulas – o que dá um ar desolador à situação que já não é tão aprazível.

Junto a eles, também está a cozinheira-chefe, Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph) – que, após perder o filho único durante a Guerra do Vietnã, opta por ficar no ambiente que mais lhe traz lembranças do jovem soldado / ex-aluno da instituição.

O pequeno e disfuncional grupo torna-se ainda menor, quando um dos rapazes consegue permissão para reunir-se com seus familiares, levando os demais colegas de classe com ele. Todos, menos Angus Tully (Dominic Sessa), que devido à falta de contato com a mãe (incomunicável em uma viagem), mantém-se isolado nas dependências do tradicional colégio.

Essa convivência forçada rende momentos incríveis, que começam com um nítido distanciamento (físico e emocional), mas evoluem, conforme o passar dos dias e as descobertas – que só são possíveis quando encontramos o ponto ideal entre a confiança e o respeito pelo próximo.

O estilo de filmagem – que, embora seja totalmente digital, simula um produto obtido através de gravações em 35 mm – é um dos maiores êxitos do filme, assim como as já muito festejadas interpretações.

Tudo é amplificado pelos excelentes trabalhos de fotografia de Eigil Bryld, cenografia de Ryan Warren Smith e figurinos de Wendy Chuck, o que transforma a produção em um pacote completo, para quem busca por algo que faça entender o motivo de o cinema continuar tão relevante, após tantos anos de sua criação.

Escrito por David Hemingson, o roteiro de “Os Rejeitados” é daqueles que ficam na memória, por sua imensa capacidade de provocar as mais diversas sensações no público. Ao som da emblemática “Crying, Laughing, Loving, Lying” (de Labi Siffre), transitamos entre risadas genuínas, lágrimas sentidas e sorrisos de satisfação. O que não deixa de ser uma sublime representação do que teremos em nossas jornadas na vida real.

Imperdível.

por Angela debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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