Crítica: “Argylle – O Superespião”

Ian Fleming (em 1953, com a criação do agente britânico James Bond) e Bruce Geller (em 1966, com a série “Missão: Impossível”) definiram o rumo que se tornaria mais conhecido em se tratando de produções fictícias voltadas ao gênero de espionagem.

Mas isso, felizmente, não significa que não haja espaço para tramas que mesclam a seriedade tradicional a elementos mais leves e divertidos, sem perder a essência e mantendo-se surpreendente o bastante para fazer os espectadores questionarem vários acontecimentos no decorrer das histórias.

É o caso de “Argylle – O Superespião” (Argylle). Produzido e dirigido por Matthew Vaughn, o filme é baseado no recém-lançado livro (que já figura em minha lista de desejos) de Elly Conway, misteriosa autora, cuja identidade tem rendido todo o tipo de rumor entre os fãs do conteúdo de sua obra.

A trama gira em torno da introspectiva autora Elly Conway (Bryce Dallas Howard) que, prestes a lançar o quinto volume da saga protagonizada pelo agente que dá nome ao longa, se vê envolta em uma perigosa conspiração envolvendo duas agências secretas de espionagem. Tudo porque, ao que parece, seus textos têm impactado nas atividades de ambas.

O que move e dá forma ao roteiro de Jason Fuchs (que também atua como produtor), é, justamente, a explicação para tal fato. Por mais que, como sempre, eu procure saber spoilers, essa foi mais uma vez em que fiquei satisfeita por não ter nenhuma informação prévia – além das minimamente necessárias, pois, a experiência seria impactada, com certeza.

De todo modo, sem entrar nesse perigoso campo de revelações indevidas, é possível discorrer sobre alguns pontos positivos, como a ótima sequência passada em um trem, que nos dá a dimensão da importância da criação de Argylle (Henry Cavill) para Elly. E a inclusão do agente Aindan Wilde (Sam Rockwell) na equação, que faz com que real e imaginário se misturem e resultem em algo frenético (visual e sonoramente falando).

Levando o crédito de participações especiais, John Cena (como Wyatt), Dua Lipa (Legrange), Ariana DeBose (Keira), e Sofia Boutella (Sabba Al-Badr) mostram-se eficientes em seus papéis. Assim como Samuel L. Jackson (Alfie), que, claramente, sabe o quanto sua presença engrandece cada um dos trabalhos dos quais participa.

Com mais tempo de tela, Bryan Cranston (Diretor Ritter) e Catherine O’Hara (Ruth) têm graus de importância diferenciados e vivem personagens tão importantes quanto relevantes para a história apresentada ao público.

Embora se passe em dias atuais, o visual da produção lembra muito o dos Anos de 1970, o que fez meus olhos brilharem: seja pela emblemática estampa xadrez – observada na bolsa de transporte em que Elly carrega seu gato de estimação Alfie (Chip), na capa do novo livro da autora e no material de divulgação do filme na vida real – ou pela dupla formada pelo casaco de veludo verde (perfeitamente trajado por Henry Cavill) e vestido dourado de paetês (usado pela personagem de Dua Lipa).

A marcante época também é celebrada através da excelente escolha rítmica da trilha sonora, que tem Barry White (com “My First, My Last, My Everything”); “Now and Then”, dos Beatles; e “Do you wanna funk?” (Patrick Cowley feat. Sylvester), cuja pegada está em plena harmonia com “Electric Energy”, faixa original de Boy George, Ariana DeBose e Nile Rodgers. As demais composições inéditas de Lorne Balfe servem para pontuar o compasso de cada cena, do suspense à ação, do emocional ao intenso.

Para concluir, “Argylle – O Superespião” tem muitas (muitas) reviravoltas – algumas mais óbvias – como em quase todo título do gênero – outras, que realmente me conquistaram. E, com esse recurso usado tantas vezes em 139 minutos (com direito à cena adicional durante os créditos finais), não há meio-termo: é ame ou odeie. Que bom que eu amei.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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