Crítica: “A Cor Púrpura”

Baseado no romance homônimo de Alice Walker (lançado em 1982), a nova adaptação de “A Cor Púrpura” (The Color Purple) emerge como uma narrativa cinematográfica que pretende não só capturar a essência da obra literária, mas também transcender seu contexto histórico para abordar questões contemporâneas.

Sob a direção de Blitz Bazawule, o filme se propõe a explorar a violência enfrentada pelo povo negro, em particular pelas mulheres vítimas de sexismo, racismo e violência doméstica. No início, as vozes de Halle Bailey (Como a versão jovem de Nettie) e Phylicia Pearl Mpasi (como a jovem Cellie) nos conduzem por um cenário contrastante do estado da Geórgia rural das primeiras décadas do século XX, marcado pelas cicatrizes da escravidão e pela segregação racial.

A abordagem musical, repleta de cores vibrantes e cenários simples, imerge o espectador em um ritmo envolvente, embalado pelo soul e jazz, enquanto por trás das melodias ressoam os temas de abandono, abuso e perda que assombram a protagonista Cellie, interpretada com magnitude por Fantasia Barrino.

Entretanto, mesmo com um elenco talentoso (que inclui, entre outros, nomes como Danielle Brooks – indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante pelo papel de Sofia – Taraji P. Henson e Colman Domingo) e a direção fotográfica primorosa de Dan Laustsen, “A Cor Púrpura” tropeça em alguns pontos de sua jornada cinematográfica.

O maior desafio reside no roteiro de Marcus Gardley, que nem sempre consegue estabelecer um vínculo emocional sólido entre o público e as personagens, suas dores e lutas. A montagem muitas vezes carece de uma transição suave entre cenas intensas e momentos dançantes, prejudicando o ritmo e a conexão emocional da história.

O filme, embora seja um tributo à força e resiliência das mulheres negras, e, por mais que brilhe em sua estética e interpretações, falha em preencher determinados espaços vazios com uma narrativa coesa e emocionalmente envolvente.

No fim, “A Cor Púrpura” pode não alcançar o status de obra-prima, mas, ainda assim, segue como uma opção válida para se conferir nos cinemas (tanto para o espectador que assistiu à versão de 1985 – dirigida por Steven Spielberg – quanto para quem vai conhecer a história a partir dessa releitura musical).

por Artur Francisco

*Texto originalmente publicado no site CFNotícias.

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