Crítica: “Back to Black”

Fama. Uma palavra tão pequena quanto intensa, que povoa os sonhos de incontáveis indivíduos mundo afora. Um atalho para uma vida de contentamento e prazer. Uma via de mão única para a degradação física, moral e emocional. Depende de como é encarada por aqueles que a conquistam.

Amy Jade Winehouse (Maria Abela) seguiu todas as direções que sua aptidão foi capaz de levá-la. De jovem cantora anônima de pubs londrinos a uma das mais reconhecidas intérpretes de jazz da história da música mundial, tudo em sua vida foi intenso em um grau difícil de suportar.

Em “Back to Black” (Back to Black), conhecemos a protagonista aos 18 anos, quando ela ainda começava a galgar os muitos degraus em direção ao reconhecimento por sua música de qualidade inquestionável.

Mesmo dando os primeiros sinais de problemas que a levariam ao fundo do poço futuramente (como o gosto excessivo por álcool e cigarros, além de uma severa bulimia – encarada como um “bem-sucedido regime”), esse começo da narrativa escrita por Matt Greenhalgh ainda ostenta surpreendente leveza e acerta ao mostrar o bonito relacionamento que ela tem com sua avó materna Cynthia (Lesley Manville), a quem considera seu maior ícone de estilo e vida.

Já a ligação com o pai Mitch (Eddie Marsan) tem altos e baixos, mas o que fica bastante claro é que, assim como dito na letra de “Rehab”, ele apenas pensava que a filha estava bem – o que pode soar como certo desprezo pelas visíveis complicações que vão se instalando na vida de Amy, em especial, após o aparecimento do auto proclamado “assistente de vídeo de estúdio”, Blake Fielder-Civil (Jack O’Connell) em seu caminho.

A inocência (com todas as nuances sarcásticas e seguras do comportamento da protagonista) vai dando espaço a uma dependência doentia da presença daquele que se tornaria seu marido. E com ela, a sensação de que, para ser amada, necessita de certos ajustes em opiniões que pareciam firmes, apesar de tudo.

É esse relacionamento que abre as portas para Amy se afundar em drogas pesadas e tornar-se uma figura que marcava presença nos tabloides – não apena por seu talento monumental, mas também por suas atitudes agressivas, bebedeiras frequentes e desmoronamento completo.

Tal conexão tóxica será o tema principal de grandes sucessos da cantora que afirmava precisar viver suas músicas (no sentido mais amplo da expressão). A volta ao luto que dá nome ao premiado disco laureado com cinco Grammys diz respeito ao retrocesso de Amy, quando se vê abandonada pelo então namorado Blake, cujo nome será mencionado vezes o suficiente para o público reconhecer suas (más) ações como se fosse alguém próximo.

Não houve tempo para Amy realizar seus sonhos pessoais. Mesmo alcançando o topo do mundo, no que diz respeito a reconhecimento por seu trabalho como cantora /compositora, a impressão é que ela não foi realmente feliz. O desejo de ser mãe e de ter um casamento sólido (ainda que isso não seja viável quando álcool e drogas são presenças constantes) se concretizaram.

E a garota que parecia não depender da aprovação de ninguém (mas que assume, logo após a confirmação de sua vitória na cerimônia do Grammy, a necessidade de sentir que é motivo de orgulho para sua mãe Janis – papel de Juliete Cowan) aceita que precisa de ajuda para se reerguer.

Seja por sua potência vocal ou pelo forte impacto de suas composições, a verdade é que sua  real fragilidade não foi percebida a tempo. E, em 23 de julho de 2011, Amy Winehouse, que queria que as pessoas ouvissem sua voz e esquecessem seus problemas por cinco minutos, chocou uma legião de fãs com sua prematura partida.

Numa sábia decisão, “Back to Black” não faz desse ato final um desnecessário espetáculo visual. Não é preciso. Apenas sua menção já é capaz de nos fazer voltar ao luto sentido há treze anos. E nos ajuda a lembrar de Amy, assim como era sua vontade, apenas por ser simplesmente ela.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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