Crítica: De encontro com a vida

É provável que uma das frases mais famosas da literatura mundial seja de Antoine de Saint-Exupéry, em sua obra O Pequeno Príncipe: “O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração”. Essa é a mesma sensibilidade que encontramos na trama de “De encontro com a vida” (Mein Blind Date mit dem Leben /My Blind Date with Life).

A produção alemã é baseada em fatos reais e traz a história de Saliya Kahawatte (Kostja Ullmann), jovem filho de imigrantes do Sri Lanka que sonha com a carreira no ramo de hotelaria, mas que do dia para a noite tem suas pretensões arruinadas pela descoberta de um problema congênito que lhe provoca um grave deslocamento de retina e, por consequência, a perda de 95% da visão.

Ele começa então a perceber que, por mais que se empenhe, sua força de vontade nem sempre será suficiente para encarar as exigências impostas pelo mundo (seja em áreas pessoais ou profissionais). Ao ter ser currículo exemplar recusado por inúmeros hotéis – e intrinsecamente sabendo que a causa é sua deficiência -, decide omiti-la de futuras possíveis entrevistas de emprego.

O que parece um plano simples acaba se mostrando bastante complexo com sua aprovação para treinamento em um dos mais renomados hotéis da cidade de Munique, na Alemanha. Tarefas triviais como aprender o modo correto de estender um lençol na cama, tornam-se desafiadoras para o protagonista e é nessa hora que se faz necessária a conquista de boas e inesperadas amizades, para que consiga manter em segredo seu problema.

Lendo este texto, pode parecer que o filme é triste, ou que prega “apenas” as dificuldades de Saliya, mas a produção está longe de ser assim. Através de uma direção segura de Marc Rothemund e de excelentes interpretações (em especial a de Jacob Matschenz, que dá vida a Max), acompanhamos a trajetória do personagem – incluindo o relacionamento com a simpática Laura (Anna Maria Mühe) – de maneira agradável e, por várias vezes, até mesmo divertida.

O recurso de exibir imagens cada vez mais embaçadas, de acordo com a progressão da perda de visão pode incomodar – e essa deve mesmo ser a intenção – mas se faz necessária para nos afeiçoarmos e passarmos a torcer ainda mais pelo êxito do jovem. E, soando tão clichê quanto verdadeira, é uma ótima maneira de provocar a reflexão do público sobre a dádiva da visão, que passa despercebida na correria de nosso dia a dia.

Vale conferir.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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