Crítica: Suspíria – A Dança do Medo

Alçado ao patamar de clássico, o terror italiano “Suspíria” lançado em 1977 e que conta com Dario Argento em três frentes distintas – direção, composição e roteiro (este, ao lado de Daria Nicolodi) – ganha uma nova produção nele baseada – em minha concepção não chega a ser um remake, porque, de acordo com minha pesquisa, houve mudanças significativas na trama.

Dirigido por Luca Guadanino, o longa ítalo-americano “Suspíria – A Dança do Medo”(Suspiria) não parece ter nenhum pudor em já entregar importantes revelações do roteiro em cenas impressionantes desde o início da exibição.

A narrativa dividida em “seis atos e um epílogo” é bem amarrada e consegue manter-se sólida mesmo dentro dessa aparente divisão forçada. Enquanto a ação avança, há um crescente perturbador que deixa o público em um estado quase hipnótico diante do que se vê em tela.

O centro da narrativa se passa nas dependências da Markos Tanz Company, uma escola de dança em Berlim, na qual a jovem americana Susie Bannion (Dakota Johnson) é admitida após um catártico teste de coreografia sob a rigorosa avaliação de Madame Blanc / Helena Markos (a excepcional Tilda Swinton, que, sob camadas de maquiagem, também interpreta o terapeuta Dr. Klemperer), um dos grandes nomes do ramo e proprietária do local.

Conforme a rápida evolução da dançarina torna-se cada vez mais visível, a ponto dela conseguir o papel principal na cobiçada apresentação do espetáculo “Volk” – clássico criado pela personagem de Tilda – os bastidores tornam-se mais sombrios e perigosos. De um lado, a força e beleza da dança executada por Susie impressionam; de outro, a crueldade de quem não aceita nada que se assemelhe a um abandono de valores.

Os elementos principais do filme funcionam de maneira coerente: mesmo com uma duração longa (152 minutos), a tensão impregnada na tela consegue se sustentar – e até mesmo crescer, conforme novos elementos são oferecidos ao público. E, ainda que pareça confuso atrelar em uma mesma obra, pinceladas de realismo fantástico / sobrenatural às dores mais reais causadas por uma época tão enervante quanto os meados da Guerra Fria, o resultado final é satisfatório.

Destaque para a opção do diretor Luca Guadanino de explorar o horror puro e absoluto de maneira visceral. O ato final da obra é seu verdadeiro ápice, tanto visual quanto narrativo. E se eu cheguei a esse ponto imaginando que todas as respostas já haviam sido encontradas, confesso que ainda consegui me surpreender (em parte pelo fato de não ter visto o título no qual este se baseia e não ter nenhum conhecimento prévio da história).

Vale conferir.

por Angela Debellis

Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

Comments are closed.