Crítica: Anos 90

Estreando como diretor e roteirista, Jonah Hill desenvolveu um magnífico trabalho no filme “Anos 90” (90Mids). A trama retrata a história de Stevie (Katherine Waterston) que está na fase da adolescência e para fugir da agressividade de seu irmão mais velho, e não presenciar os relacionamentos abusivos de sua mãe – que é muito ausente em diversos momentos importantes da vida do garoto – acaba se envolvendo com drogas logo aos 13 anos de idade.

Os conflitos abordados na narrativa transmitem com sutileza como a mente humana é frágil, sobretudo quando se trata de um (a) adolescente. Essa fase costuma ser mais conturbada, justamente por ser uma época muitas mudanças, tanto físicas quanto emocionais. Essa etapa da vida é decisiva e influencia diretamente o futuro dos jovens, pois suas descobertas podem levar para o bom ou para o mau direcionamento na vida adulta.

Voltando a focar na produção, foi uma sacada de mestre do diretor usar o formato de imagem 1×1:33, que deixa a imagem mais quadrada em quase todos os tipos de tela, a textura granulada faz o espectador perceber que não é um filme sobre os anos 1990 – e sim um longa na década de 1990, a impressão que temos é que o material foi gravado naquela época.

A todo momento tem aquelas referências nostálgicas como os CDs, Nintendo, MP3, e a ascensão do skate – muito comum nas cidades norte americanas nessa década. Fora isso, a obra faz muitas referências ao Rap e a quanto ele fazia sucesso, tanto que todos os adolescentes tinham pôsteres de bandas colados nas paredes do quarto. A trilha sonora também é muito bem pensada, aliás tudo nesse filme faz o espectador voltar ao passado.

Jonah Hill foi genial nas sequências, não têm um erro de continuidade. Toda a mensagem é passada de forma clara, coesa, e sempre com diálogos bem emocionantes – emoção essa presente até mesmo em um trágico acidente no qual não aparecem as imagens apenas o som. Outro destaque vai para o fato de não mostrar mostrar cenas muito fortes- isso gera uma expectativa enorme em quem assiste.

“Anos 90” é aquela obra que todos os pais deveriam ver, ela ajuda a entender como diversas atitudes chegam de forma muito angustiante e incompreensível para seus filhos. A indústria cinematográfica deveria divulgar mais os filmes com essa temática, pois além de entretenimento, são uma aula de entendimento e compreensão com o próximo.

E como os longas conseguem, de alguma maneira, influenciar na formação do cidadão, é provável que este possa ajudar muitos jovens a sair de depressões – e ainda auxiliar seus pais também, tendo em vista que aborda os dois lados das relações familiares conturbadas.

por Leandro Conceição

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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