Crítica: Rocketman

Quem for mais atento (ou fã de longa data), perceberá que sob os belíssimos acordes de “Goodbye Yellow Brick Road” acontece boa parte das cenas marcantes de “Rocketman”, cinebiografia musical que conta a surpreendente vida de um dos maiores nomes de todos os tempos da indústria musical: Elton John. E esse é apenas o primeiro passo.

A trama começa de maneira bem contundente com o protagonista (vivido em sua fase adulta por Taron Egerton) ainda trajado com um de seus extravagantes figurinos, adentrando em uma clínica de reabilitação em busca de ajuda. Ao assumir suas aflições – dependência em álcool / cocaína, vício em compras / sexo, bulimia e necessidade de controlar sua raiva, demonstra estar disposto a mudar.

A partir desse ponto, ele se torna o narrador da própria história – com várias participações neste cenário, durante a reunião com o grupo de internos do local ao longo do filme – que nos apresenta o pequeno Reginald Kenneth Dwight (nesta primeira fase interpretado por Matthew Illesley, que conquista a plateia desde que surge em cena), natural do Reino Unido e filho de um casal problemático composto pela mãe Sheila (Bryce Dallas Howard) e pelo pai Stanley (Stevem Mackintosh), que não tem o amor pelo garoto como uma de suas prioridades.

Por outro lado, ele é muito bem cuidado pela avó materna Ivy (Gemma Jones), que o estimula a seguir em frente e lutar pelos seus sonhos que começam a ser trilhados de fato aos 11 anos, com a tentativa de conseguir uma bolsa de estudos na renomada Royal Academy of Music (agora já sendo interpretado pelo jovem Kit Connor).

A transição para a vida adulta e para o inicialmente nada glamouroso caminho da fama acontece de maneira fluída. E em situações assim, chega a ser reconfortante saber que já no princípio desta jornada ele encontrou – de maneira surpreendente – com Bernie Taupin (Jamie Bell), que se tornou seu companheiro de trabalho até hoje, responsável pelas letras de tantas conhecidíssimas melodias compostas por Elton.

Conforme orientação do próprio retratado, é fácil perceber que algumas sequências, ainda que apresentadas de maneira adequada às telonas, estão quase em nenhuma “suavização”: os graves problemas com drogas, a descoberta e posterior aceitação da orientação sexual – que resultou em um relacionamento abusivo com seu agente da época, John Reid (Richard Madden), as explosões emocionais quando algo saía de sua capacidade de controle.

A opção por se transformar a produção dirigida por Dexter Fletcher e roteirizada por Lee Hall (que ainda tem o marido de Elton, David Furnish, como um de seus produtores) em uma espécie de musical faz com que o resultado consiga ganhar ares deslumbrantes em certos momentos – como nas cenas de shows que simulam as famosas fotos em que o astro parece flutuar em frente ao piano.

Fora a qualidade do elenco e do roteiro que são excepcionais, o que mais me chamou a atenção em “Rocketman” foi a preocupação com cada pequenino detalhe: a transformação dos óculos de aro regular de Reginald para o par em forma de coração margeado de strass de Elton; a queda da pluma e dos paetês em um corredor vazio, como se simbolizasse a descensão do pop star e o pedido de socorro do homem que teve uma relação familiar tão complicada. Tudo perfeitamente concebido.

Com uma carreira de cinco décadas pontilhadas por incontáveis sucessos, seria impossível colocar todas as canções conhecidas no longa, mas a escolha das faixas me pareceu bastante adequada, com as letras representando de maneira comovente o que se vê em tela.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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