Crítica: Graças a Deus

François Ozon é sinônimo de excelência, o diretor e escritor é aclamado pela crítica especializada em cinema e suas produções já receberam inúmeras indicações nas mais variadas premiações, como “Potiche” em 2010 – indicado no Leão de Ouro no Festival de Veneza e “8 mulheres” de 2002, que representou a França no Oscar. Pois bem, desta vez o diretor francês se joga em um trama ficcional inspirada em fatos reais.

“Graças a Deus” (Grâcie à Dieu) tem início quando Alexandre (Mevil Poupad) descobre que um padre que abusou dele quando criança está de volta à paróquia e continua trabalhando com crianças. A sensação de impunidade toma conta do homem que deseja levar o caso a julgamento pela própria igreja, uma vez que o crime está prescrito.

O longa é focado em um tema que nos últimos anos vem sendo muito discutido dentro, e principalmente fora, da igreja católica: os inúmeros relatos de abusos sexuais com crianças cometidos por lideranças católicas. A trama revela o sofrimento de jovens e adultos causado pelo Cardeal Bernard Preynat (Bernard Verley).

O drama passeia pela trajetória de algumas das vítimas do padre pedófilo e revive a forma com que eles seguiram suas histórias. Vezes levando uma vida comum com bom emprego, esposa e filhos, outras desenvolvendo problemas psicológicos, dificuldade de se relacionar e vícios – como é o caso de Emmanuel (Swann Arlaud). Também foca na forma com que os representantes da igreja lidam com as denúncias, em sua maioria, colocando panos quentes sob as acusações.

Vale lembrar que a narrativa é baseada na luta das 85 vítimas do Cardeal, e que o caso de Lyon é um dos maiores escândalos de pedofilia envolvendo a Igreja Católica no mundo. Contudo, a forma com que o filme foi conduzido tem um caráter explicativo – os longos diálogos não responsabilizam Deus ou a Igreja pelo ocorrido, e sim, tratam da atitude do homem perante a situação.

A obra é um relato doloroso, porém necessário de um tema que ainda é considerado tabu por religiosos ao redor do mundo, e enfrentou problemas com sua estreia em seu país de origem. Apesar de tudo, é uma história que merece ser contada.

por Carla Mendes

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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