Crítica: “Espírito Jovem”

Ao conhecer a premissa de “Espírito Jovem” (Teen Spirit), a impressão que tive é a de que seria mais um entre tantos títulos que se propõem a contar a jornada de um protagonista atrás de sonhos inalcançáveis à primeira vista – não que isso seja algo ruim, já que o tema quando bem desenvolvido, consegue ser atraente – ainda que pouco inovador.

Mas, no decorrer da exibição do drama musical dirigido e roteirizado por Max Minghella, é possível perceber que, mesmo que a base central de superação permaneça intocada, a narrativa possui qualidades suficientes para fazê-lo se destacar entre produções semelhantes do gênero.

Ellen Fanning dá vida à Violet Valenski, jovem descendente de poloneses, que vive com a mãe Marla (Agnieszka Grochowska) na pequena ilha de Wight, no Reino Unido. Com uma rotina monótona e repleta de responsabilidades – que incluem trabalhar em um decadente pub e auxiliar nas tarefas domésticas e de manutenção da fazenda em que mora – ela demonstra ainda ter capacidade para sonhar com voos bem mais altos do que sua realidade mostra ser viável.

Sem nenhum tipo de apoio profissional que a ajudasse a aprimorar seus dons, Violet é uma cantora nata. Seu contato com o público se restringe a apresentações no karaokê do pub, durante as quais não tem a atenção de quase nenhum dos presentes. Em uma delas, conhece o misterioso Vlad (Zlatko Buric), ex-cantor de ópera que viu sua carreira entrar em uma espiral descendente e se entregou ao perigoso mundo das bebidas – o que lhe causou também graves problemas familiares.

A protagonista vê uma chance palpável de provar seu talento através do famoso concurso Teen Spirit, uma espécie de reality show musical, que está em busca de um jovem talento na Inglaterra. É através das inúmeras etapas da competição, que ela descobrirá que o caminho a ser trilhado até o estrelado esconde armadilhas que nunca passariam pela cabeça de quem só observa o que acontece em cima do palco e sob os holofotes.

O longa é repleto de detalhes a serem destacados: Ellen Fanning mostra que, além de um dos mais promissores nomes de sua geração de atores / atrizes, também é uma ótima cantora, ao interpretar diversas canções e conseguir mostrar a evolução vocal de sua personagem conforme a narrativa avança e ela segue as orientações de Vlad.

Também vale ressaltar as homenagens feitas a dois musicais icônicos dos anos de 1980: “Flashdance”, que tem um trecho instrumental de seu tema “What a Feeling” (vencedor do Oscar de Melhor Canção Original de 1984) tocado no longa; e “Ruas de Fogo – Uma Fábula de Rock and Roll” (até hoje, o meu musical favorito), através do figurino vermelho usado por Violet na apresentação final, que imediatamente me fez associá-lo como uma versão mais despojada e esportiva da roupa usada por Diane Lane no longa de 1984.

Apesar do roteiro simples, “Espírito Jovem” cumpre bem seu papel de entregar uma história que prende a atenção e ganha a simpatia do público. Ao assumirmos a posição de espectadores de um show – mas que também têm acesso ao que acontece nos bastidores – nos tornamos mais próximos e passamos a torcer para que tudo dê certo com os personagens, tanto profissional quando emocionalmente.

Vale conferir.

por Angela Debellis

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