Crítica: A Odisseia dos Tontos

Um grupo de amigos que se unem para tentar reparar uma injustiça cometida contra eles. Esse é um tema universal e amplo o bastante para servir de base para várias produções. A mais nova delas é “A Odisseia dos Tontos” (La Odisea de los Giles), longa argentino que busca uma vaga entre os cinco candidatos ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2020.

Dirigida e roteirizada por Sebastian Borensztein (que esteve recentemente no Brasil junto ao produtor Federico Posternak), a comédia dramática é baseada na premiada obra literária “La Noche de la Usina”, de Eduardo Sacheri – que agora também assume o papel de roteirista da adaptação cinematográfica.

A trama se passa em 2001, no pequeno município argentino de Alsina e gira em torno do desejo de alguns habitantes de adquirirem um antigo silo desativado para criar uma espécie de cooperativa. Para isso, juntam forças e economias a fim de conseguir efetivar a compra e começar a dar formas reais à vontade de gerar empregos.

Mas, embora tenham se empenhado em atingir os valores necessários, um empréstimo bancário ainda acaba parecendo o melhor negócio para os amigos e Fermín Perlassi (Ricardo Darín) toma a decisão de solicitá-lo sem falar com os demais interessados, pois o gerente do banco afirmou que em poucas horas tudo estaria resolvido.

Só que se assim fosse, não haveria mais o que contar e uma reviravolta acontece para acabar com as expectativas dos personagens: o chamado “corralito” (cercadinho, em tradução literal), uma espécie de congelamento das contas-correntes e poupanças, que impede a retirada de grandes quantias e visa impedir a quebra do sistema financeiro da Argentina.

Para piorar, além de ter o dinheiro retido, os amigos descobrem que houve uma transação irregular entre o gerente e um advogado local, Fortunato Manzi (Andrés Parra), que possibilitou o saque de todos os dólares depositados na agência em benefício próprio. Essa é a deixa para que os protagonistas comecem a armar um plano para reaver seu dinheiro e ainda fazer a dupla de golpistas pagar por suas ações.

Embora o humor seja a base central do filme – inclusive com a tal vingança arquitetada de maneira tão eficaz quanto divertida -, também há espaço para o drama coletivo (na forma do prejuízo causado à população com as medidas radicais adotadas pelo governo) e pessoal (com alguns dos personagens passando por momentos de perda e decepção em família).

A produção é incrível. Através de um texto simples e cativante, ela consegue conquistar a simpatia dos espectadores desde o princípio e é fácil se pegar torcendo para que os “tontos” consigam sair vitoriosos. A história de cada um e as esperanças colocadas em um único sonho que pode mudar a vida de todos de maneira decisiva aproximam os personagens do público.

Destaque para as atuações de todo elenco, que consegue manter uma sintonia impecável no decorrer da história e faz com que “A Odisseia dos Tontos” seja uma ótima e surpreendente pedida para conferir nos cinemas.

por Angela Debellis

Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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