Crítica: Medo Profundo: O Segundo Ataque

Certos temores permanecem no imaginário popular, não importa o tempo que passe. E, desde o estrondoso êxito alcançado por “Tubarão” em 1975, filmes com temáticas semelhantes surgem nos cinemas e na televisão esporadicamente. O problema é que muitos não apresentam uma qualidade sequer aceitável e se tornam apenas “mais um” entre tantos produzidos.

“Medo Profundo: O Segundo Ataque” (47 Meters Down: Uncaged) é feito de momentos. Em alguns, ele até parece atender o mínimo que se espera de um título do gênero; em outros, são visíveis os deslizes não só de roteiro, mas do conjunto todo.

Johannes Roberts volta à direção (assim como mais uma vez assina o roteiro ao lado de Ernest Riera), nesta que, apesar do nome, não pode ser considerada uma sequência direta de “Medo Profundo”.

O longa demora para ganhar fôlego, a introdução parece extensa demais, deixando a sensação de que estamos assistindo a um filme genérico sobre adolescentes que resolvem ir contra orientações de seus pais e acabam se dando mal. Ainda assim, quando finalmente a ação começa, há pontos a serem destacados.

A história se passa no México e gira em torno de quatro estudantes do ensino médio: a novata que sofre bullying, Mia (Sophie Nélisse); a filha de sua madrasta, Sasha (Corinne Foxx); a que convence a dupla a desistir de um passeio turístico em um barco, para aventurar-se em um local desconhecido, Nicole (Sistine Rose Stallone); e a que tem a péssima ideia de entrar em túneis que levam à cidade subterrânea de Xibalba, Alexa (Brianne Tju).

Com a intenção de ver de perto as catacumbas recém-descobertas por Grant (John Corbett) – pai de Mia e exímio explorador -, as jovens se veem diante de grandes problemas após um desmoronamento que as impossibilita de voltar à tona e as coloca de frente com enormes tubarões-brancos – que embora cegos, ainda permanecem letais.

Aí surge uma das maiores falhas da trama: com o óbvio desespero instaurado, o oxigênio dos tanques seria consumido mais rapidamente e ao chegar a determinada porcentagem, causaria uma espécie de “pane” no cérebro e as faria alucinar (como visto em “Medo Profundo”), o que não acontece em nenhum momento – as más decisões são tomadas de maneira lúcida mesmo, nem dá para culpar a falta de oxigenação cerebral.

Outro revés se dá graças à sequência passada nos minutos finais, quando o absurdo ultrapassa qualquer limite – não que antes houvesse algum considerável – e transforma a história em algo mais risível do que temerário. Acredito que se tivesse rumado para outro lado – o do suspense / terror, propriamente dito – o encerramento poderia ser menos vexatório.

O fato de boa parte das cenas se passar debaixo d’água, com direito a vários momentos de escuridão e/ou visão embaçada pelo lodo que sobe quando o quarteto precisa nadar mais rápido, aliado à opção de colocar as personagens “presas” no mesmo ambiente claustrofóbico – formado por túneis estreitos -, pode fazer com que a produção não seja indicada a quem se sente desconfortável com tais elementos.

Pelo lado positivo, vale dizer que, embora bastante óbvios, alguns jumps scares ainda funcionam bem e surpreendem na medida certa. Também fica o destaque para algumas inesperadas reviravoltas envolvendo o destino de certas personagens que, embora caiam no exagero em dado momento, têm potencial para manter a atenção do público.

Lembrando que, para de alguma maneira se aproveitar a experiência de se assistir a esse tipo de filme, é necessário abrir mão de várias lógicas e comprar ideias que não só parecem, mas são de fato, absurdas.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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