Crítica: Aves de Rapina (Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa)

Até alguns anos atrás, mesmo com alguns acertos prévios, seria difícil imaginar que adaptações focadas em histórias em quadrinhos de super-heróis se tornariam um filão tão rentável para a indústria cinematográfica. Mas, isso é uma realidade palpável hoje em dia.

É nesse cenário e com mais responsabilidade nas costas, que “Aves de Rapina (Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa)” (Birds of Prey – And the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn) chega aos cinemas, tendo a figura feminina como grande destaque, seja dentro ou fora das telas.

Sob a direção de Cathy Yan, com roteiro de Christina Hodson e com uma trilha sonora estritamente feminina, o longa é narrado por Harley Quinn / Arlequina (Margot Robbie) que já posiciona o público através de uma divertida introdução que conta como sua vida mudou tanto no começo, quanto após o fim de seu relacionamento com o Coringa – cuja participação é feita de maneira surpreendentemente criativa, já nesse instantes iniciais.

Em busca da tal emancipação do título, Arlequina acaba cruzando o caminho de outras mulheres que, assim como ela, também estão insatisfeitas com suas rotinas atuais e anseiam por objetivos maiores, seja encontrar paz através da vingança, deixar para trás um emprego que não as valoriza ou conseguir escapar com vida das garras de um mafioso.

Ainda que nos quadrinhos originais da equipe conhecida como Aves de Rapina, Arlequina não faça parte da formação, é impossível não destacar sua importância neste filme. Não só por ter se tornado uma figura tão popular entre os fãs, mas por ser através de sua perspectiva que a história é contada, o que significa que há um ar bastante “incomum” na maneira como os fatos chegam aos espectadores.

Há um bem-vindo exagero de cores e sons na produção, o que lhe proporciona uma atmosfera divertida e com todo jeito dos quadrinhos. O que poderia parecer um erro após a passagem de alguns minutos, se torna uma marca registrada deste que tem tudo para ser apenas o primeiro capítulo de uma nova franquia– ou pelo menos o precursor para que outras personagens tenham seus próprios filmes solo.

A aventura é permeada de acertos: da excelente quebra da quarta parede (o que sempre aproxima a plateia da ação em tela), à sabedoria de transformar em pontos positivos, elementos que poderiam ser os elos mais prováveis de gerar discussões tolas, como a capacidade de Arlequina trocar de figurino – são 13 no total – em momentos improváveis.

Mas, nada faria sentido se não fosse a escolha certeira de todo o elenco: como já era de se esperar, o espetáculo é orquestrado por Margot Robbie que, mais uma vez, personifica a Palhaça Princesa do Crime com perfeição. Jurnee Smollett-Bell entrega uma Dinah Lance / Canário Negro forte, que quando se dá conta da capacidade para se livrar das amarras emocionais que a prendem a uma monótona vida como cantora de boate, mostra-se uma das melhores aquisições da trama.

Rosie Perez interpreta Renée Montoya, policial competente que não consegue colher os frutos de seu trabalho, por causa de “colegas” de índole questionável, que não a respeitam nem no âmbito pessoal, nem no profissional. Ao aceitar uma improvável aliança com outras mulheres que também estão em busca de crescimento, tudo muda para ela.

Para fechar o grupo, Mary Elizabeth Winstead dá vida à Helena Bertinelli / Caçadora, grata surpresa por conseguir aliar uma história forte que a move em busca de justiça para sua família a uma notável capacidade de trazer alívio cômico nos momentos certos. E Cassandra Cain (papel de Ella Jay Basco), que, embora seja bem diferente de sua inspiração nos quadrinhos, ganha o público com certa inocência que a rodeia, mesmo que cometa pequenos furtos com tanta eficiência.

Quanto aos vilões, estes surgem através do metódico Roman Sionis / Máscara Negra (Ewan McGregor), influente nome da Máfia de Gotham, e seu capanga Victor Zsaz (Chris Messina). A dupla garante bons momentos em cena, promovidos também pela óbvia qualidade do trabalho dos atores, que convencem através de figuras caricatas.

Ao término da exibição, fica a vontade de ter a capacidade de luta das personagens (palmas para Chad Stahelski, responsável por sequências de encher os olhos), adotar uma hiena (Bruce em sua caminha / banheira é a coisa mais fofa do filme!) e a torcida para que a DC continue sua trajetória nos cinemas com eficiência cada vez maior.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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