É curioso notar como o avanço incessante da tecnologia consegue, naturalmente, infiltrar-se e influenciar as mais diversas vertentes da sociedade. No que diz respeito ao cinema – mais especificamente ao gênero terror – a facilidade com que uma notícia se prolifera hoje em dia acaba sendo um elemento a mais para aumentar a tensão.
Se em “O Chamado 3” vimos a temida Samara deixando de lado o VHS para aventurar-se em outras plataformas, em “A Hora da sua Morte” (Countdown), o horror moderno chega sob a forma de um aplicativo para celular que, supostamente, mostraria a seus usuários, com precisão, o quanto de vida que lhes resta.
Visto como uma inocente brincadeira pela grande maioria que faz uso de seus serviços, o aplicativo que dá nome ao filme logo se mostra bem mais perigoso e categórico. A primeira morte já acontece nos minutos iniciais da produção – uma vez que a personagem tinha poucas horas de vida – e confirma para o espectador que há pouco a se fazer para enfrentar o inevitável.
Ainda que envolva vários outros elementos secundários, o protagonismo gira em torno da jovem Quinn Harris (Elizabeth Lail), recém-formada enfermeira que descobre ter um tempo de vida bem mais curto do que poderia supor. Se em um primeiro momento tal revelação parece descartável e inofensiva, o quadro muda quando ela tem contato com um paciente que torna-se a prova da eficácia do tal aplicativo.
A partir daí, a narrativa mostra as várias tentativas de Quinn de burlar o sistema interno do calendário regressivo, antes que este seja zerado. Para isso, contará com a inesperada ajuda de Matt Monroe (Jordan Calloway), outro usuário cuja vida está por um fio e que também precisa de uma resolução imediata.
Com uma trama bastante simples e fantasiosa, a produção se baseia quase que totalmente em sustos fáceis – alguns competentes, outros nem tanto – e não se preocupa em fazer sentido, apresentando, inclusive, alguns elementos decisivos, mas cujo visual pouco convence em tela.
Mesmo assim, talvez pelo fato de jamais se vender como uma obra mais séria, “A Hora da sua Morte” consegue atingir o objetivo de, pelo menos, entreter sem compromisso. Não vai fazer história, mas está longe de ser um desastre total, como tantos outros títulos de terror que pretendem ser mais do que têm capacidade para sê-lo.
Em algum momento do longa dirigido por Justin Dec, é provável que o público se pegue questionando se já não nos basta a ciência da morte certa que cada um tem desde que começa a entender o assunto, se saber a data precisa de sua partida não seria ainda mais perturbador. Talvez seja melhor ocupar a memória de nossos celulares com aplicativos menos intimidadores.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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