Crítica: O Mensageiro do Último Dia

Não parece racional acreditar que ainda é possível fazer algo totalmente inédito em seu tratando de títulos de terror, por isso, o uso de clichês já usados anteriormente (alguns à exaustão) não chega a representar um problema de fato. Quer dizer, quando esse elemento é o único “porém” da produção.

A trama de “O Mensageiro do Último Dia” (The Empty Man) é baseada na HQ homônima de Cullen Bunn, lançada pela Boom! Studios – a qual eu não conheço, então, não posso afirmar até que ponto existe uma fidelidade à obra original – e tenta, por longos 137 minutos encontrar sua identidade, infelizmente, sem êxito.

O início do longa dirigido e roteirizado por David Prior parece promissor ao mostrar quatro amigos que veem sua viagem tornar-se um problema, após um improvável acidente que leva um deles a um estranho e perigoso estado de catatonia.

Mas a história gira mesmo em torno da investigação feita pelo ex-policial James Lasombra (James Badge Dale) que visa descobrir o que está por trás do desaparecimento de jovens da cidade em que vive. Simultaneamente, misteriosos e inexplicáveis casos de suicídio parecem convergir para uma conhecida lenda urbana local: o tal “Homem Vazio” do título original do filme.

O maior problema da produção é a indecisão quanto ao rumo que vai tomar. Não é possível descrevê-la como um thriller policial – embora haja uma grande investigação em seu cerne, assim como não dá para classificá-la como terror – ainda que conte com elementos bastante conhecidos do público para isso.

A sensação é a de que quis entregar um resultado muito maior do que seria viável com o material que se tinha em mãos, o que faz com que se perca a oportunidade de ser um quase aceitável “Filme B”, para se tornar um longa que flerta com a mediocridade a maior parte do tempo.

No meio dessa confusão, cabe ressaltar o quão é a inteligente a explicação dada sobre a tal entidade que, supostamente, está envolvida nos desaparecimentos, mesmo que parte de sua história seja “semelhante” em demasia a personagens de outras sagas. Se o título original tivesse sido mantido no Brasil – apenas traduzido ao pé da letra – faria muito mais sentido, no final das contas. Mas essa constatação chega quando já é tarde demais para reparar o estrago feito antes.

Finalizado em 2017, “O Mensageiro do Último Dia” demorou quatro anos para chegar aos cinemas brasileiros (nos Estados Unidos, estreou em outubro de 2020), por motivos desconhecidos, mas que podem ter a ver também com a venda de seu estúdio produtor e à aparente pouca vontade do novo proprietário em levar sua exibição adiante – o que acontece em um momento complicado para a indústria do entretenimento e que deve, muito provavelmente, comprometer ainda mais os valores de sua bilheteria e o interesse do público.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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