Crítica: Unidas pela Esperança

Muito se fala em heróis de guerra, daqueles que bravamente arriscam suas vidas em nome de uma nação e às vezes enxergamos esses indivíduos como uma partícula solitária.

Em “Unidas pela Esperança” (Military Wives), de Peter Cattaneo, vemos a vida de mulheres de oficiais do exército que moram em uma base militar, as tentativas de superar a tensão que pulsa incessantemente e de encontrar uma maneira de viver “normalmente”.

O longa é inspirado em acontecimentos reais que culminaram na criação do primeiro coral de esposas de militares, iniciativa que inspirou milhares de mulheres mundo afora, levando à existência de diversos grupos de mulheres cantantes.

Na comédia dramática somos apresentados a Kate (Kristin Scott Thomas), esposa de um coronel, religiosa e metódica, com o luto não superado pela perda do único filho.

Em contrapartida temos Lisa (Sharon Horgan), que devido às constantes idas e vindas e missões do marido sente-se solitária e enfrenta dificuldades em se relacionar com a filha adolescente.

Em um primeiro momento vemos a dificuldade das duas personagens em trabalhar juntas para administrar a vida social da base militar, e, de alguma forma, entreter as demais famílias do local. A velha rivalidade feminina é colocada em jogo e se torna o conflito principal.

Com menos ênfase, também é mostrado o sofrimento da espera por notícias, a comunicação interrompida entre os oficiais e a base, a falta do parceiro e a solidão enfrentada individualmente, o que dá um tom muito mais sensível ao longa, o equilíbrio entre melancolia e leveza é perfeito.

O roteiro de Rachel Tunnard e Rosanne Flynn foca nas diferentes formas que cada uma das esposas encontra para lidar com a saudade, seja cuidando dos filhos, encontrando bilhetes espalhados pela casa, relendo cartas antigas, bebendo exageradamente para escapar da realidade ou fazendo compras desnecessárias. Todas tentando se integrar nas atividades em grupo.

O coral é inicialmente um desastre e elas têm que descobrir seus gostos e vocações. É nesse momento que Kate e Lisa têm o ápice de suas diferenças: enquanto uma é metódica e ranzinza, a outra é descontraída e até desorganizada. Mas é aquele velho clichê do Ying e Yang, a dualidade existente e tão necessária.

O elenco é extremamente competente, com destaque para Kristin Scott Thomas que deu vida e emoção à sua personagem, indo do mau humor à docilidade, do confortável ao desconfortável, com uma naturalidade perfeita.

A fotografia traz o elemento visual indispensável, com cores quentes em momentos de descontração e tons mais frios para as sequências mais delicadas e tristes da trama.

Unidas pela Esperança” é um daqueles filmes que eu gostaria que o mundo prestigiasse, sem toda aquela complexidade aclamada por muitos. Um roteiro simples, sem a necessidade de se prender a entrelinhas.

Aproveite a oportunidade e confira o longa que chega hoje aos cinemas brasileiros.

por Carla Mendes

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira

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