Crítica: Raya e o Último Dragão

Nos últimos anos, a Disney tem focados seus esforços em ser mais representativa em suas obras. Obviamente, a empresa já esboçava tal comportamento na década de 1990 com personagens como Mulan, Pocahontas e Aladdin, porém essa diversidade vem se mostrando cada vez mais presente nas suas principais animações.

“Raya e o Último Dragão” (Raya and the Last Dragon) é um exemplo disso, explorando os pouco conhecidos mitos do sudeste asiático e nos trazendo uma belíssima trama que flerta com a política e nossa atual situação de calamidade.

No início do filme temos uma narração contando a história daquele mundo – um lugar chamado Kumandra – onde humanos e dragões viviam em harmonia, até que uma grande calamidade surge e obriga os dragões a se sacrificarem para salvar a humanidade.

Quinhentos anos se passam e agora Kumandra se divide em cinco reinos diferentes. Após um conflito ideológico entre eles, a força maligna que extinguiu os dragões retorna, e agora cabe a Raya buscar o Último Dragão para tentar expulsar esse grande mal e restaurar a paz.

Com uma produção feita quase inteiramente em HomeOffice, o filme consegue, com sua trama, abordar de maneira sutil as principais questões que o mundo enfrenta atualmente, como a polarização de ideologias políticas (representadas como os conflitos entre os reinos do Kumandra) e a pandemia do Coronavírus – que toma a forma de criaturas feitas de sombras que só podem ser vencidas pela cooperação mútua. Essas questões tornam a animação atual e chega exatamente em um momento em que tal mensagem precisa ser propagada.

Uma das escolhas mais certeiras da Disney em relação a esse longa foi a escolha dos dubladores do áudio original: o elenco é um verdadeiro exemplo de representatividade, contando em sua maioria com atores e atrizes de origem asiática, como por exemplo, Kelly Marie Tran como Raya, a cantora Awkwafina como o dragão Sisu, Gemma Chan como Namaari e Benedict Wong como Tong.

Os cenários e construções estão de cair o queixo. As arquiteturas são visualmente parecidas com as que vemos em países do Sudeste Asiático como Camboja, Indonésia e Malásia, mas ainda sim temos aquele toque de fantasia característico da Disney, que transforma essas inspirações reais em um mundo mágico, porém palpável.

Os cinco reinados também têm suas inspirações em diferentes culturas dessas localidades, tornando cada um dos lugares únicos e facilmente identificável para o espectador.

A modelagem dos personagens é belíssima, sendo possível perceber características de pessoas que de fato vivem no Sudeste Asiático, porém em nenhum momento essa representação se torna estereotipada ou caricata. Assim como os costumes e personalidades, que se inspiram em muitos aspectos presentes na cultura do Leste Asiático e no longa não são tratados como exóticos ou estranhos, uma excelente contribuição para a representatividade dessa região.

“Raya e o Último Dragão” tem potencial para se tornar tão relevante à indústria das animações como “Moana – Um Mar de Aventuras” fez anteriormente, retratando de forma respeitosa e bonita uma cultura não branca, e ainda assim conseguir tornar aqueles personagens tão próximos a nossa realidade, que nos vemos inseridos naquele mundo e em sua cultura.

Que esse exercício de integração e diversidade que a Disney vem fazendo se torne cada vez mais recorrente na cultura pop, de modo que os adultos também possam aprender com as importantes lições que tais filmes buscam ensinar.

por Marcel Melinsk

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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